O juiz Sérgio Moro retirou nesta quarta-feira (16) o sigilo de
interceptações telefônicas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
As conversas gravadas pela Polícia Federal incluem diálogo desta quarta
com a presidente Dilma Rousseff, que o nomeou como ministro chefe da
Casa Civil.
No despacho em que libera as gravações, Moro afirma que, “pelo teor
dos diálogos degravados, constata-se que o ex-Presidente já sabia ou
pelo menos desconfiava de que estaria sendo interceptado pela Polícia
Federal, comprometendo a espontaneidade e a credibilidade de diversos
dos diálogos”.
Moro afirma, ainda, que alguns diálogos sugerem que Lula já sabia das
buscas feitas pela 24ª fase da Operação Lava Jato no início do mês.
Conversa com Dilma
– Dilma: Alô
– Lula: Alô
– Dilma: Lula, deixa eu te falar uma coisa.
– Lula: Fala, querida. Ahn
– Dilma: Seguinte, eu tô mandando o ‘Bessias’ junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?!
– Lula: Uhum. Tá bom, tá bom.
– Dilma: Só isso, você espera aí que ele tá indo aí.
– Lula: Tá bom, eu tô aqui, fico aguardando.
– Dilma: Tá?!
– Lula: Tá bom.
– Dilma: Tchau.
– Lula: Tchau, querida.
Influência
O juiz diz que algumas em algumas conversas se fala, aparenetemente,
“em tentar influenciar ou obter auxílio de autoridades do Ministério
Público ou da Magistratura em favor do ex-Presidente”. Moro ressalta,
porém, que não há nenhum indício nas conversas, ou fora delas, de que as
pessoas citadas tentaram, de fato, agido “de forma inapropriada”.
“Em alguns casos, sequer há informação se a intenção em influenciar
ou obter intervenção chegou a ser efetivada”, observa o juiz.
Um dos casos citados por Moro faz referência à Ministra Rosa Weber do
Supremo Tribunal Federal (STF), “provalvemente para obtenção de decisão
favorável ao ex-Presidente na ACO 2822”. Na ocasião, Weber negou pedido
apresentado pela defesa do ex-presidente para suspender duas
investigações sobre um triplex em Guarujá (SP) e um sítio em Atibaia
(SP) ligados a ele.
“A eminente Magistrada, além de conhecida por sua extrema honradez e
retidão, denegou os pleitos da Defesa do ex-Presidente”, afirmou Moro.
Outro ministro que também aparece nos diálogos é Ricardo Lewandowski.
“Há diálogo que sugere tentativa de se obter alguma intervenção do
Exmo. Ministro Ricardo Lewandowski contra imaginária prisão do
ex-Presidente, mas sequer o interlocutor logrou obter do referido
Magistrado qualquer acesso nesse sentido”, consignou o juiz.
Moro afirma também que há menção ao recém nomeado Ministro da Justiça
Eugênio Aragão, sobre quem Lula diz que “parece nosso amigo”, mas de
quem reclama porque “este não teria prestado qualquer auxílo”.
O juiz registra no despacho que registrou essas referências “apenas
para deixar claro que as aparentes declarações pelos interlocutores em
obter auxílio ou influenciar membro do Ministério Público ou da
Magistratura não significa que esses últimos tenham qualquer
participação nos ilícitos”. Para Moro, porém, isso “não torna menos
reprovável a intenção ou as tentativas de solicitação”.
Envio ao STF
Ao fim do despacho, Moro informa que, diante da notícia de que Lula
aceitou convite para ocupar o cargo de ministro chefe da Casa Civil, as
investigações serão enviadas ao Supremo Tribunal Federal. O material
deve ser enviado após a posse, que está marcada para terça-feira (22).
G1