Em entrevista à revista Veja, Delcídio Amaral, ex-líder do governo no
 Senado, disse que a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz 
Inácio Lula da Silva sabiam sobre esquema de corrupção na Petrobras. 
Delcídio, preso preventivamente durante a Operação Lava-Jato e libertado
 após delação premiada, revelou detalhes sobre um suposto plano para 
impedir que as investigações capitaneadas pelo juiz Sergio Moro fossem 
adiante. Durante o depoimento à publicação, o senador repete várias 
vezes um “mea culpa” e diz que quer “ajudar a Justiça e a sociedade 
brasileira a descobrir quem são os verdadeiros vilões desta história”.
“Eu errei ao participar de uma operação destinada a calar uma 
testemunha, mas errei a mando do Lula. Ele e a presidente Dilma é que 
tentam de forma sistemática obstruir os trabalhos da Justiça, como ficou
 claro com a divulgação das conversas gravadas entre os dois”, disse 
ele.
Delcídio diz ainda que Dilma “se beneficiou diretamente do esquema, 
que financiou as campanhas eleitorais dela”. Segundo o senador, agora 
sem partido, a mandatária “sabia de tudo”: “A diferença é que ela fingia
 não ter nada a ver com o caso”.
Sobre o suposto esquema para abafar as investigações, Delcídio disse 
que nem sempre a presidente e Lula agiram em consonância. Ele diz que o 
ex-presidente acreditava que a presidente e o ex-ministro da Justiça e 
atual titular da Advocacia-Geral da União, José Eduardo Cardozo, tinham 
um acordo para blindá-la de eventuais acusações.
“A condenação dele seria a redenção dela, que poderia, então, posar 
de defensora intransigente do combate à corrupção. O governo poderia não
 ir bem em outras frentes, mas ela seria lembrada como a presidente que 
lutou contra a corrupção”, disse.
Cardozo também aparece como um dos principais atores de um plano para
 melar a Lava-Jato no STF, após reunião de Lula com senadores do PTe do 
PMDB, em Brasília, em meados do ano passado.
“O presidente do STF, Ricardo Lewandowski, era peça-chave do plano. 
Eu, Dilma, José Eduardo Cardozo discutimos isso juntos. Ficou acertado 
que o encontro seria no exterior, para não chamar atenção”, disse 
Delcídio.
Em Portugal, Dilma teria conversado informalmente com Cardozo e 
Lewandowski. Teori Zavaski, relator da Lava-Jato, não participou do 
encontro. Segundo o senador, Dilma teria tentado convencer Lewandowski a
 aderir, mas fracassou.
“Ao voltar ao Brasil, ela me disse que Lewandowski recusara 
republicanamente a convocação partidária. Pouco tempo depois, Lula me 
contou a mesma coisa — que procurara Lewandowski, mas ele se recusara a 
atendê-lo”, disse à revista.
Na entrevista, o advogado Sigmaringa Seixas, representante legal de 
Lula e ex-presidente da construtora OAS, é apontado como “cara de 
confiança” do ex-presidente. Delcídio diz que Seixas “participou 
ativamente da escolha de integrantes da cúpula do poder Judiciário e tem
 relação de proximidade com ministros dos tribunais superiores”.
“O Lula negociou diretamente com as bancadas as indicações para as 
diretorias da Petrobras e tinha pleno conhecimento do uso que os 
partidos faziam das diretorias, principalmente no que diz respeito ao 
financiamento de campanhas. Lula comandava o esquema”, afirmou à revista
 Veja o ex-líder do governo Dilma no Senado.
Delcídio também disse que o ex-presidente tentou interferir na Lava-Jato logo no início.
“Na primeira vez que o Lula me procurou, eu nem era líder do governo.
 Foi logo depois da prisão do Paulo Roberto Costa (ex-diretor de 
Abastecimento da Petrobras). Ele estava muito preocupado. Sabia do 
tamanho do Paulo Roberto na operação, da profusão de negócios fechados 
por ele e o amplo leque de partidos e políticos que ele atendia. O Lula 
me disse assim: ‘é bom a gente acompanhar isso aí. 
Tem muita gente 
pendurada lá, inclusive do PT’. Na época, ninguém imaginava aonde isso 
ia chegar”, disse Delcídio.
Ele fala também da acusação, em sua delação premiada, ao senador 
tucano Aécio Neves, que teria recebido propina de Furnas. Segundo o 
senador, a estatal rendeu dinheiro clandestino ao PP, PT e PSDB.
“Se a informação não fosse verdadeira, um tucano de alta plumagem não
 teria me procurado, dias antes de o STF homologar minha delação, para 
conversar. Eu não aceitei recebê-lo”, disse o senador, que preferiu não 
revelar o nome do político quando foi questionado quem era.
G1