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O elevador em que a mulher foi encontrada morta na China ficou desligado por um mês (Foto: Reprodução)A notícia do descobrimento do cadáver foi reproduzida pela imprensa mundial. Mas o desaparecimento da vítima passou despercebido por um mês sem que ninguém – parentes ou vizinhos – notasse a ausência.

Ainda sob comoção, chineses se perguntam como foi possível que uma mulher tenha ficado presa em um elevador e morresse lá dentro sem que o corpo fosse descoberto.

O elevador, de um prédio residencial na cidade de Xian, havia sido desligado por dois trabalhadores de manutenção em 30 de janeiro. O cadáver da mulher foi localizado em 1º de março.

O episódio motivou um debate sobre padrões de segurança na China, mas também sobre temas como a situação de mulheres adultas solteiras (estigmatizadas na China) e o cuidado a doentes mentais no país.

Elevadores que ‘engolem pessoas’
 
“Trinta dias. Quanta dor e sofrimento deve ter havido? Meu coração dói por ela”, escreveu o usuário Huixinya na rede social Weibo, o Twitter da China.

Outros manifestaram horror e pena pela morte da mulher de 43 anos, identificada publicamente pelo apelido familiar: Wu.

O fato de os funcionários terem feito apenas uma rápida verificação – gritando por alguém dentro do elevador – antes de desligar o aparelho também provocou reações indignadas.

Meios de comunicação chineses informaram que os encarregados da manutenção e os responsáveis pela administradora do prédio foram presos sob acusação de homicídio culposo (sem intenção de matar).

“Era tão difícil simplesmente abrir o elevador e verificar?”, questionou um usuário nas redes sociais. “E se fosse uma pessoa surda?”, perguntou outro.

Houve ainda críticas aos funcionários, apontados como preguiçosos e irresponsáveis. “Isso não foi causado por um acidente de trabalho, mas por trabalhadores sem integridade pessoal básica”, disse um internauta no Weibo.

O episódio renovou preocupações em relação a padrões de segurança precários e a uma cultura que prefere encurtar processos. Em um caso polêmico recente, uma mulher morreu após cair de uma escada rolante com defeito em um shopping.

“A onda recente de mortes em elevadores e escadas rolantes não pode ser atribuída simplesmente a problemas de fabricação, mas a deveres incumpridos e manutenção descuidada”, dizia um comentário no portal Red Net, que reivindicava mais fiscalização para “curar a doença dos elevadores que engolem pessoas”.
 
App para mulheres solteiras
 
Com informações que apontam que Wu, a mulher morta no elevador, vivia sozinha e tinha pouco contato com a família, também surgiram inquietações sobre a segurança das mulheres solteiras.

Houve quem manifestasse surpresa pelo fato de ninguém ter alertado autoridades sobre a ausência da mulher, o que mostraria o crescente isolamento das pessoas em grandes cidades.

Xiaowuerfu, um usuário do Weibo, apontou: “Talvez poderia haver um app onde diariamente alguém desse dois toques, e pelo qual a polícia fosse avisada caso esse toque não fosse feito após dois dias”.

“Pensava que casos assim só ocorressem em áreas rurais, mas uma metrópole é também uma floresta de aço, você está rodeado por tanta gente, pode ter muitos amigos, mas poucas conexões reais”, disse outro usuário.

A situação das mulheres solteiras, estigmatizadas na China como “sheng un”, ou mulheres encalhadas, é um assunto que há tempo preocupa uma cultura que prioriza o casamento e a maternidade na vida das mulheres.

O Estado já tentou incentivar mais mulheres solteiras a se casar, principalmente pelo grande desequilíbrio de gênero causado pelo fim da política que permitia o nascimento de apenas um filho por casal.

Problemas mentais
 
Informações que circularam sobre o caso do elevador, atribuídas a vizinhos não identificados, davam conta que Wu sofria de problemas mentais.

Ainda que as informações não tenham sido confirmadas, houve um debate sobre o cuidado a pessoas com esse tipo de enfermidade.

“Como a família pode ter permitido que ela desaparecesse por um mês? O que houve com a sua comunidade, o que estavam fazendo?”, perguntou um usuário.

Outros criticaram a imprensa e questionaram a relevância do tema.

“Isso não tem nada a ver com o fato de a vítima ter problemas mentais. Por acaso uma pessoa sã poderia ter sobrevivido um mês presa em um elevador?”, foi outro comentário.

“Esse fato ocorreu e agora discutem o histórico de saúde mental da mulher. Por Deus, os doentes mentais não são pessoas também?”, afirmou outro comentarista.

Jean Ganso/G1
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