A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, ligada ao Ministério
da Justiça, revelou preocupação com o crescimento de uma droga chamada
NBOMe neste Carnaval. A substância, um ácido alucinógeno confundido com o
LSD (dietilamina do ácido lisérgico), é suspeita de ter causado mortes
em países da Europa, nos Estados Unidos e também no Brasil. O laudo do
Instituto Médico Legal de São Paulo sobre a morte do estudante Victor
Hugo Santos, em setembro do ano passado, apontou que ele se afogou na
raia olímpica da Universidade de São Paulo (USP) após ter consumido a
droga.
Sintetizado no início do século XXI a partir de moléculas do grupo
das feniletilaminas, o NBOMe é, como o LSD, vendido em tiras de papéis
coloridos para serem colocadas na língua. Por haver poucos estudos sobre
a droga, suas consequências ainda não são muito difundidas entre
médicos e usuários.
Tal como o LSD, a substância causa alterações na percepção, como
observar cores e formas vívidas e mutantes, e a sensação de que o
indivíduo se funde com o ambiente. “Seu efeito é basicamente o mesmo do
LSD”, explica o psiquiatra Ivan Braun, doutor pela Faculdade de Medicina
da USP e especialista no tratamento de usuários de drogas.
Mas as semelhanças param por aí. Por ser mais forte que o LSD — são
necessárias doses pequenas de NBOMe para obter os mesmos efeitos —, a
droga traz riscos psicológicos maiores. Alguns casos de morte no
exterior se deram após os usuários, sofrendo fortes alucinações, se
jogarem de janelas ou varandas.
“Em uma das pesquisas se relata que os efeitos desagradáveis do
NBOMe, durante a fase de ‘barato’, podem ser mais intensos que os dos
alucinógenos clássicos”, afirma Braun. De acordo com o psiquiatra, há
casos descritos de intoxicação pela substância. “Há relatos de aumento
da pressão arterial, febre, morte de células musculares e mesmo
convulsões”, relata.
Origem — O NBOMe é uma droga sintética que começou a ser produzida em
2003, na Alemanha. Seu propósito inicial foi de marcador de atividade
de receptores de serotonina (uma substância química envolvida na
comunicação entre as células nervosas), no cérebro.
Como entorpecente, tornou-se conhecido no exterior há cinco anos. No
Brasil, chegou entre 2011 e 2012 e, devido a sucessivas apreensões em
2013, em Estados como São Paulo e Santa Catarina, foi proibido em
fevereiro de 2014. Nesta data, a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) colocou 11 variações do NBOMe (como o 25I-NBOMe ou
25B-NBOMe) na lista de substâncias proibidas. Nos Estados Unidos, a
droga, que é usada em festas, costuma ser chamada de N-Bomb ou N-Bome.
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