Uma nova abordagem científica levanta uma hipótese alternativa
para a origem da hipertensão, cujas causas são muitas vezes indefinidas.
Cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade de Vanderbilt, nos
EUA, descobriram que, além do rim e dos vasos sanguíneos, a pele também é
um importante regulador do sódio e da pressão arterial.
— Apesar dos esforços maciços de
pesquisas, nós ainda não entendemos por que 90% dos nossos pacientes têm
pressão alta. Pensamos que uma interpretação diferente poderia ser útil
— defendeu o professor associado da universidade, Jens Titze, autor do
estudo.
Numa série de testes, os pesquisadores
mostraram que o corpo armazena sódio na pele. Observaram que as células
do sistema imunológico e os capilares linfáticos (vasos do sistema
linfático) regulam o equilíbrio de sódio e a pressão arterial. O papel
da pele neste processo ainda é pouco estudado.
— Essa visão é nova. Até o momento, os
principais sistemas estudados eram os rins e os vasos sanguíneos —
explicou a diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia na Regional RJ (SBEM-RJ), Flávia Conceição. — O impacto do
estudo é mostrar que isso pode ser a causa de casos de hipertensão
sensível ao sal.
Flávia lembra que a pesquisa, por
enquanto, não relaciona a quantidade de sal na dieta e a ocorrência de
hipertensão. Jens Titze, por sua vez, ressalta que mais estudos são
necessários.
— Não sabemos se o sódio se acumula
porque estamos comendo muito sal. Tenho a impressão de que o depósito de
sal no corpo humano não é benéfico para a saúde, mas isto teremos que
provar experimentalmente — disse.
Sal em excesso leva à hipertensão
Segundo ele, entretanto, não há dúvida de
que a redução do consumo de sal também abaixa a pressão arterial e de
que manter a pressão arterial mais baixa é melhor para a saúde. O
pesquisador cita estudos em que o consumo de até 6g de sal por dia pode
ser administrado pelo corpo sem muitos problemas. Enquanto isto, a média
de consumo de sal em países industrializados está em torno de 9g a 12g
por dia.
O trabalho, publicado ontem no “Journal
of Clinical Investigation”, usou camundongos para demostrar que o
metabolismo do sal na pele também influi no controle da pressão arterial
sistêmica. Os roedores foram alimentados com uma dieta com alta
concentração de sal, que se acumulou na pele. O sistema imune percebeu o
acúmulo de sódio e ativou a proteína chamada TONEBP. Esta, por sua vez,
estimulou o fator de crescimento VEGFC no sistema imunológico,
aumentando a capacidade dos vasos linfáticos e a depuração do cloreto de
sódio.
Quando o gene TONEBP é eliminado, não há
uma resposta do VEGFC a uma dieta com excesso de sal, o que levaria a um
aumento da pressão arterial. De acordo com a pesquisa, os sistemas
imune e linfático na pele trabalham juntos na regulação dos eletrólitos
(cloreto de sódio) e da pressão sanguínea. Portanto, defeitos no sistema
de regulação poderiam estar associados à hipertensão sensível ao sal.
De O Globo Online