Do total de 8.210 presos, 2.926 são de pele negra e 1.400 com idade entre 18 e 24 anos.
Um sistema carcerário cada vez mais jovem e formado, em sua maioria,
por homens e negros. Este é o perfil da população no Sistema
Penitenciário Paraibano, em 2011, segundo dados do Anuário Brasileiro de
Segurança Pública, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública
(FBSP). Do total de 8.210 presos, 7.623 são do sexo masculino, o que
representa 92,85%. Desses, 2.926 são de pele negra e 1.400 com idade
entre 18 e 24 anos.
“Joguei muitas oportunidades fora, mas aqui dentro aprendi muito.
Entrei para o mundo do crime muito cedo, não por ter a maldade dentro de
mim, mas por me sentir profundamente incomodado quando via minha irmã
menor abrir a geladeira e armário e não ter o que comer. Então, passei a
praticar alguns crimes ainda na adolescência para ajudar a estabilizar
minha família, embora minha mãe nunca aceitasse essa 'ajuda' que vinha
da rua”, relatou José Carlos (nome fictício), natural do Rio de Janeiro,
que foi preso ainda aos 23 anos na Paraíba e que se enquadra no perfil
da população carcerária do Estado.
José Carlos, que foi acusado por tráfico interestadual de drogas e
está detido há 1 ano e 4 meses na Penitenciária Desembargador Flósculo
da Nóbrega (Presídio do Róger), em João Pessoa, disse que a forma fácil
de adquirir bens foi o que o seduziu para o crime.
“A pessoa se hipnotiza, mas hoje vejo que nada disso vale a pena,
pois é uma felicidade falsa. Sempre procurei a felicidade na vida, no
amor e nunca achei. O que eu aconselho para quem está no crime,
independente de qual seja, é que pare enquanto é tempo, porque eu sempre
quis pagar pra ver e agora sei que o preço é muito caro”, declarou.
De todas as consequências de estar privado da liberdade, o que José
Carlos sente mais falta é da mãe. “Sempre tivemos um bom relacionamento e
sinto muita falta dela. Desde que entrei aqui não tive contato com ela.
Já escrevi algumas cartas, mas nunca tive retorno. Não sei nem como é a
voz da minha mãe mais. Isso me deixa triste, sinto falta de conversar,
de trocar uma ideia...”, disse pesaroso.
Por outro lado, contrariando um conceito que se houve na sociedade,
que quem é preso, sai pior do que entrou, o jovem fez questão de
ressaltar que na prisão é possível se reabilitar. “Cadeia é sofrimento,
mas também um aprendizado de vida. Aqui aprendi a ter paciência, calma,
sabedoria, entre outras coisas. Te reabilita em tudo, até a viver em
sociedade e eu quero voltar a ela. Quando alguém não muda após ser
preso, é a própria pessoa que não quer”, frisou.
Para a defensora pública e gerente operacional de Articulações nos
Estabelecimentos Penais (AEP) da Paraíba, Persinandes Carvalho, o perfil
jovem nas cadeias públicas do Estado, que passou de 880 detidos com
faixa etária até 24 anos, em 2010 para 1.400, em 2011, representando um
crescimento de 59,09%, está intimamente ligado à “explosão do crack”.
“O aumento no número de jovens no sistema penitenciário está ligado
ao tráfico de drogas, onde depois da explosão do crack o número aumentou
muito. Em consequência disso, também aumentou o índice de homicídio,
furto e roubo, porque eles querem a todo custo o dinheiro para comprar a
droga e por isso praticam os delitos e acabam sendo presos”, avaliou.
Por Jornal da Paraíba