O surto do vírus zika no Brasil pode ter um novo vetor além
do mosquito Aedes aegypti, segundo revelação feita ontem por
pesquisadores do projeto de vetores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
em Pernambuco. De acordo com a cientista Constância Ayres, o vírus foi
encontrado ativo na glândula salivar e no intestino do mosquito Culex, o
pernilongo comum.
“Isso significa que o atual vírus conseguiu escapar de
algumas barreiras no mosquito e chegou à glândula salivar”, explicou a
pesquisadora durante o workshop A, B, C, D, E do vírus zika. No
encontro, ela apresentou resultados preliminares da investigação que
levaram à disseminação do vírus para a glândula salivar do mosquito, por
onde aconteceria a transmissão da doença para humanos.
“Para concluir isso (em definitivo), só falta identificar em
campo a espécie de mosquito infectada com o vírus da zika”, ressaltou a
bióloga que ingressará com a nova fase da pesquisa, partindo para
análise do material de campo que está sendo coletado para chegar a uma
conclusão – em seis a oito meses.
“Nas casas e onde acontecem registros do vírus estão sendo
coletados mosquitos das duas espécies. Trazemos esse material para o
laboratório e fazemos os testes moleculares para detectar o vírus nessas
espécies. Tendo realizada uma grande quantidade de amostras, poderemos
ter uma ideia se o Aedes é o vetor exclusivo, se existem outros vetores e
qual a importância de cada um na transmissão”, afirma.
Cautela
Apesar do achado, especialistas dizem que o fato de o Culex ser “infectável” não indica obrigatoriamente que ele possa transmitir zika. “O experimento ainda é muito preliminar”, disse Margareth Capurro, bióloga do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP).
O assunto também foi discutido ontem nos Estados Unidos. Em
debate sobre o combate à zika realizado na sede da Organização
Pan-Americana de Saúde (Opas), em Washington, o coordenador do Centro de
Relações Internacionais em Saúde da Fiocruz, Paulo Buss, afirmou que
será preciso pesquisar mais para descobrir se o vírus pode ser
transmitido pelo Culex.
“A possível transmissão não está descartada, mas ainda
precisa ser provada. É uma das questões que ainda não sabemos
responder”, ressaltou. “Diversos estudos estão sendo levados adiante e
as análises ainda estão sendo reunidas por entomologisatas e outros
especialistas”, afirmou Buss.
No mesmo evento, a Opas informou que há 134 mil casos suspeitos de zika no continente e 2.765 confirmados. A organização destaca que, pelo fato de 80% das vítimas serem assintomáticas e ainda existir dificuldade de diagnóstico, esses números não representam o surto. (Colaboraram Fabiana Cambricoli e Fábio de Castro). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.