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Nos rodeios, como o de Barretos (SP), normalmente as estrelas são os peões, mas, para criadores, o mais importante são os touros que saltam na arena.  Alguns desses animais são obtidos mediante uma criteriosa “garimpagem” genética e têm valor de mercado incalculável.

Os touros campeões chegam a ter a dose de sêmen vendida por até R$ 10 mil. Criadores dizem que eles são bem tratados. Entidades de defesa animal alegam que eles sofrem.
Para o veterinário Joaquim Candido de Oliveira, 39, que tem 20 animais participando de provas na Festa do Peão de Barretos (423 km de São Paulo), os touros que saltam são encontrados numa proporção de um para cada grupo de cem bovinos. “É necessário montar em todos para saber qual deles tem perfil para rodeios.”
Quando é encontrado, porém, vira motivo de comemoração. Um touro saltador chega a valer R$ 100 mil, diz Oliveira. Os animais jovens, que ainda estão em desenvolvimento, podem ser alugados por R$ 500 para as provas.
Já os que se destacam fazem o dono embolsar cinco vezes esse valor, de acordo com o veterinário. Os rodeios, segundo criadores de touros, se estendem de março a novembro.
Segundo Oliveira, o fator sorte é muito importante para encontrar os bois de ouro durante a garimpagem. Ele cria 50 cabeças de bovinos para rodeios em São João da Boa Vista (393 km de São Paulo).
Oliveira conta com a assistência técnica da faculdade de veterinária local na seleção genética dos animais.

Animais fazem natação e têm alimentação especial

O veterinário é dono do touro Faixa de Gaza, que integra as provas de elite da Festa do Peão de Barretos. Nas finais de 2012 e 2013 da Liga Nacional, nenhum peão parou oito segundos em cima dele, de acordo com o dono.
Faixa de Gaza é da raça marchigiana, pesa 950 quilos e recebe cuidados especiais. O animal tem uma alimentação especial, corre dois quilômetros por dia e pratica natação.
Produz sêmen sem contato direto com vacas, e as doses são negociadas, comercializadas a R$ 500 cada.
Para o veterinário, que atua no ramo desde os 16 anos de idade, o mercado de touros saltadores no Brasil é “interessante, porém difícil”.

Touro faz caminhada sob cuidado de veterinários

Outras estrelas da Festa do Peão de Barretos são os animais da Cia Paulo Emílio de Rodeio. A empresa, que é de São José do Rio Preto (438 km de São Paulo),  possui 150 cabeças.
Entre os animais da companhia está o touro Agressivo. O bicho é resultado de cruzamento das raças nelore e charolês, tem nove anos de idade, pesa 900 quilos e possui valor “incalculável”, segundo a empresa.
Sua característica, de acordo com a empresa, é não fazer o mesmo tipo de saída e ainda ser capaz de alterar a direção do pulo em segundos, “dificultando para o competidor fazer uma leitura dessa ação”. Por enquanto, está invicto há quatro anos, em 35 desafios.
A exemplo de outros animais do plantel, Agressivo recebe uma alimentação balanceada com aveia especial e vitaminas e pratica caminhadas sob cuidados de veterinários.
A empresa não informou quanto os rodeios pagam para ter o touro em suas atrações. A empresa comercializa sêmen por preços que variam de R$ 300 a R$ 2.000 a dose.S

Sêmen de Picachu custa até R$ 10 mil a dose

Outra estrela da festa de Barretos é o touro Picachu, que tem sete anos e pesa 500 quilos. É um animal de porte menor em relação a outros saltadores e resultado do cruzamento das raças piemontês e nelore. Atualmente, vale R$ 50 mil, segundo a advogada Sandra Mara Domingos, 41, dona da empresa SMD, há cinco anos no mercado de rodeios.
Picachu recebe ração balanceada, faz exercícios e vive isolado em um piquete na propriedade dos donos, em São Joaquim da Barra (382 km de São Paulo). O sêmen de Picachu e de outros bichos têm preços que variam de R$ 3.000 a R$ 10 mil, segundo Sandra.
A empresária diz que a SMD fatura R$ 150 mil por ano alugando touros e cavalos. Na região de São Joaquim da Barra, promove dois eventos do gênero por semana.

Entidade de proteção reclama de maus-tratos

Para a médica veterinária Vania de Fátima Plaza Nunes, 52, diretora do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal (FNPDA), os cuidados especiais que os touros recebem não significa que eles estejam sendo bem tratados.
Ela afirma que o isolamento dos outros animais, o transporte, as luzes e o som das arenas durante as provas estressam e podem provocar problemas de saúde. Para ela, os rodeios devem deixar de existir.
“A ciência já demonstrou que os animais também possuem consciência, em graus variados. Os pulos na arena não são uma expressão natural dos touros, mas de quem está sendo submetido a maus-tratos e quer se livrar disso. Eles sofrem com essa atividade, que é de interesse puramente comercial.”

Festa do Peão diz que animais têm bem-estar garantido

Apohara Ranzani, 31, membro do comitê veterinário da Festa do Peão de Barretos, não concorda que haja maus-tratos em relação aos animais de rodeio que saltam no Parque do Peão da cidade.
Ele diz que, como veterinário, orienta e fiscaliza práticas que garantam o bem-estar dos bichos durante o evento. Para ele, os touros são bem tratados e não sofrem durante os espetáculos, como afirma os defensores da causa animal.
Em relação à crítica de que vivem apartados, Ranzani afirma que os touros que saltam precisam viver separados do rebanho para se evitarem brigas nas disputas por fêmeas.

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