O ator mexicano Rubén Aguirre Fuentes, conhecido por interpretar o 
Professor Girafales em “Chaves” (1971-1980), morreu nesta sexta-feira 
(17) aos 82 anos. A informação foi publicada no Twitter de Edgar Vivar, 
que fazia o Senhor Barriga no mesmo programa. “Meu professor favorito, 
descansa em paz… Hoje meu grande amigo Rubén Aguirre parte deste plano. 
Sentirei muito sua falta”, escreveu Vivar na mensagem. Não há informação
 sobre a causa da morte.
Aguirre, que há duas décadas tomava medição para controlar diabetes e
 problemas renais, havia passado recentemente 11 dias internado no 
México por causa de uma pneumonia.
Durante a internação, Aguirre usou o Twitter para agradecer aos fãs e
 chegou a brincar com boatos de sua morte. “Já começaram os rumores. 
Digo-lhes que estou vivinho e tuitando. Taaaa, taaa, ta,,, ta!”, 
escreveu em 1º de junho, usando um bordão do Professor Girafales.
Rubem Aguirre estava aposentado dos palcos desde o fim de 2007, 
depois que ele e a esposa, Consuelo Reyes, sofreram um acidente de 
carro. Consuelo perdeu as pernas após a batida. Ela e o marido passaram a
 usar cadeira de rodas.
Nascido em 15 de junho de 1934, na cidade de Saltillo, no México, 
Rubén Aguirre Fuentes era formado em engenharia agrônoma e começou a 
carreira artística como locutor e apresentador de rádio e TV. Antes da 
fama, também trabalhou como toureiro e piloto.
Seu perfil no Facebook informa que, desde 1976, ele fazia apresentações em circos interpretando o Professor Girafales.
Aguirre era casado com Consuelo Reyes desde 1960 e deixa sete filhos, além de netos.
Sem poder trabalhar na TV, no teatro ou no circo desde o acidente de 2007, Ruben Aguirre passou a enfrentar também problemas financeiros. Exatamente um ano atrás, em junho de 2015, ele divulgou uma carta em que dizia ter “sérios problemas de saúde” e pedia apoio para pagar seus gastos.
Intitulado “E agora, quem poderá me defender?” (referência ao 
personagem Chapolin), o texto reivindicava assistência médica da 
Associação Nacional de Atores do México (Anda).
“Como muitos de vocês sabem, nos últimos tempos meu estado de saúde e
 de minha esposa se debilitaram (…) Minhas forças se acabaram. Tenho 
lutado há dez anos por esse direito, porque há dez anos preciso dele. 
Tenho 81 anos e, repito, tenho sérios problemas de saúde”, escreveu.
Na época, uma de suas filhas, Verónica Aguirre, afirmou à BBC: “Meu 
pai se aposentou faz nove ou dez anos, mas nunca pediu ajuda à 
associação. Ele pagou tudo do próprio bolso, mas, de uns tempos para cá,
 tem precisado do auxílio de seu sindicato”. Dois meses depois, a Anda 
quitou a dívida, segundo informou o próprio ator.
Em 2014, ele já havia sido internado no México com quadro de 
desidratação e anemia. Em 2015, foi hospitalizado por causa de cálculos 
na vesícula e problemas na coluna. Mas os cálculos não puderam ser 
removidos na época justamente por causa de uma dívida hospitalar.
‘Não temo a morte. Temo estar morrendo’
Em agosto de 2015, dois meses depois da carta aberta, Rubén Aguirre comentou seu delicado estado de saúde em entrevista ao canal Telemundo, emissora mexicana nos Estados Unidos.
Fumando charuto, afirmou: “Não estou totalmente bem: uso uma cadeira 
de rodas, não posso caminhar, não tenho força nas pernas… Não temo a 
morte. Temo estar morrendo. Isso, sim, me dá muito medo”.
Aguirre disse que um dos filhos de Roberto Bolaños (1929-2014), 
criador e protagonista de “Chaves”, teria oferecido ajuda. Os outros 
colegas de elenco, no entanto, não teriam feito o mesmo. “Nem Carlos 
[Villagrán, o Quico], nem Maria Antonieta [de las Nieves, a Chiquinha], 
nem Edgar [Vivar, o Senhor Barriga], ninguém se aproximou para me dar 
apoio. Mas eu entendo”, declarou.
Autobiografia: ‘Depois de você’
Rubén Aguirre lançou sua autobiografia, “Después de usted” no começo no começo de 2015. O nome do livro, que ainda não foi traduzido para o português, remete ao jargão do Professor Girafales em “Chaves”, “Depois da senhora”, dita repetidas vezes para a Dona Florinda, vivida pela atriz Florinda Meza.
Se não fosse por Bolaños, “mais do que um companheiro de trabalho, 
seu amigo”, Aguirre admite no livro que não teria se tornado uma figura 
internacional ou mesmo conseguido atuar. Em entrevista a agência EFE na 
época em que livro saiu, o ator comentou como Bolaños o convidou para 
viver Girafales, personagem “pretensioso, vaidoso, prepotente e 
romântico”.
Sobre as polêmicas quanto aos direitos dos peronsagens de “Chaves”. 
María Antonieta de las Neves,a Chiquinha, e Carlos Villagrán, o Quico, 
romperam com Bolaños por causa disso. Sobre o tema, Aguirre afirmou 
“Cada ator tem suas próprias características e a obrigação de encarnar o
 personagem, mas isso não significa que seja seu. James Bond é de Sean 
Connery por tê-lo vivido? Não, é de Ian Fleming. Assim como os atores 
que interpretaram Hamlet não o ‘tiraram’ de Shakespeare”.
As opiniões custaram a amizade de María Antonieta, por ter dito 
durante uma entrevista que pretender roubar a personagem do seu criador 
era uma “canalhice”. “A partir de então não falou mais comigo, ficou 
muito zangada. Eu sinto muito, porque éramos muito amigos e a conheço 
desde menina”.
Discreto e no ‘crepúsculo da vida’
Em sua autobiografia, que terminou de escrever pouco antes da morte de Bolaños em novembro de 2014, Aguirre também explicou por que sempre se manteve discreto em sua vida privada. que sempre se manteve discreto em relação à sua vida particular. “Fico chocado com os artistas que vendem seu casamento, um divórcio ou o nascimento de um filho para uma revista ou para um programa de televisão, é uma coisa muito íntima, eu jamais faria isso”, destacou.
Amante das redes sociais, o ator mantinha uma competição saudável no 
Twitter com Édgar Vivar, disputando para ver quem alcançava o maior 
número de seguidores.
“Os dias em que os primeiros capítulos de ‘Chaves’ foram gravados, 
uns em cima dos outros, no mesmo filme, para economizar, ficaram pra 
trás. Os avanços tecnológicos foram bárbaros desde então, mas é uma pena
 que os avanços intelectuais não tenham sido os mesmos”, comparou.
“Os textos atuais são ruins, há piadas muito antigas, e você vê 
atores excelentes, mas se pergunta quem está escrevendo suas falas”, 
completou.
No “crepúsculo de sua vida”, como observou com humor, Aguirre 
lamentou ter deixado algumas coisas por fazer, como interpretar um vilão
 ou ter sido “árbitro” de beisebol. Ainda assim, afirmou que ver seus 
filhos era o que o fazia se sentir mais orgulhoso. Também sentia que não
 havia sido estigmatizado como Professor Girafales.
Apsar disso, admitiu que “pagam muito melhor por ser o professor Girafales, do que por ser Rubén Aguirre”. 
Por Jean Ganso/G1.
