O paranaense Rodrigo Muxfeldt Gularte reagiu com
“surpresa” e um discurso “delirante” ao ser informado de sua execução
por tráfico de drogas na Indonésia, disse um diplomata brasileiro que
acompanhou o anúncio.
Gularte, de 42 anos e condenado à morte em 2005 ao
tentar entrar na Indonésia com 6kg de cocaína em pranchas de surfe, foi
diagnosticado com esquizofrenia. A família tenta convencer autoridades a
rever sua pena e transferi-lo para um hospital.
Ele foi notificado neste sábado da execução, que é por
fuzilamento. O anúncio foi feito na prisão de Nusakambangan, a 400km de
Jacarta, e foi acompanhado pelo encarregado de negócios do Brasil em na
capital do país asiático, Leonardo Carvalho Monteiro. Autoridades não
divulgaram uma data, mas as penas poderão ser cumpridas a partir da
tarde de terça-feira (28), após as 72 horas de aviso exigidas pela lei
indonésia.
“Ele reagiu com muita surpresa e pensou que toda a
movimentação ao redor dele não estava relacionada ao seu caso”, disse
Monteiro à BBC Brasil por telefone. “Ele fez uma série de declarações
desconexas, estava totalmente disperso, com um discurso aproximando-se
do delirante. Ficou evidente o grau de desconexão dele com a realidade”.
“Ele foi gentil com todos, cavalheiro, e num momento
admitiu que o seu erro tinha sido gravíssimo, mas que tinha sido uma
única vez e achava injusto receber esta pena”, completa o diplomata.
As sentenças deverão ser cumpridas na prisão de
Nusakambangan, onde Gularte está preso. Ele foi transferido para uma
unidade onde presos aguardam pela execução.
“Ele está confiante que a família vai resolver tudo rapidamente e ele vai voltar para a rotina dele anterior”, disse Monteiro.
A mãe de Gularte, Clarisse, está no Brasil e não deverá
viajar à Indonésia, disse o diplomata. Angelita Muxfeldt, prima de
Gularte que está na Indonésia acompanhando o caso, deverá visitá-lo nos
próximos dias.
Gularte poderá ser o segundo brasileiro a ser executado
na Indonésia. Em janeiro, o carioca Marco Archer Cardoso Moreira foi
fuzilado após ser condenado à morte por tráfico de drogas.
‘Vozes de satélite’
Familiares e conhecidos relataram à BBC Brasil que Gularte passa seus dias conversando com paredes e ouvindo vozes de satélites. A prima citou conversas frequentes sobre “vidas passadas no Egito e histórias surreais”, e que ele se recusa a tirar um boné, que usa virado para trás, que alega ser sua proteção.
Uma equipe médica reavaliou o brasileiro na prisão em
março à pedido da Procuradoria Geral indonésia, mas o resultado deste
laudo não foi divulgado, apesar de repetidos pedidos da defesa e do
governo brasileiro. Ricky Gunawan, advogado de Gularte, disse que
entrará com outro recurso na segunda-feira para tentar reverter a
decisão.
“Condenamos fortemente esta decisão. Isto prova que o
sistema legal indonésio não protege os direitos humanos. O fato de que
um prisioneiro com uma doença mental possa ser executado é mais do que
um absurdo”.
A embaixada brasileira encaminhou pedido oficial à
Procuradoria Geral indonésia para que a execução seja postergada até que
o recurso da defesa seja analisado, disse Monteiro. Autoridades
indonésias haviam dito que as execuções não seriam realizadas até que
todos os apelos dos condenados fossem considerados.
Segundo o Ministério de Relações Exteriores, o “Brasil
está se coordenando com os demais países para identificar eventuais vias
de ação e buscar meios de evitar a execução”.
Além de Gularte, oito condenados também foram
notificados – sete estrangeiros e um indonésio. Entre eles estão os
australianos Andrew Chan e Myuram Sukumaran, considerados os líderes do
grupo de traficantes “Os Nove de Bali”, além de cidadãos das Filipinas e
Nigéria.
O presidente indonésio, Joko Widodo, que assumiu em
2014, negou clemência a condenados por tráfico, dizendo que o país está
em situação de “emergência” devido às drogas. Em janeiro, seis presos
foram executados, inclusive Marco Archer Cardoso Moreira.
Brasil e Noruega convocaram seus embaixadores na
Indonésia em protesto e, em fevereiro, a presidente Dilma Rousseff
recusou temporariamente as credenciais do novo representante indonésio
no Brasil em meio ao impasse com Jacarta diante da iminente execução de
Gularte.
Austrália e França alertaram que as relações com o país
poderiam ser afetadas se seus cidadãos fossem executados. Grupos de
direitos humanos também têm pressionado a Indonésia para cancelar a
aplicação das penas.
Mais de 130 presos estão no corredor da morte, 57 por tráfico de drogas, segundo a agência Associated Press.
Terra