O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa
afirmou, durante uma palestra em Florianópolis, que o governo mente ao
dizer que combate a corrupção. Segundo Barbosa, quem cumpre este papel
são a Polícia Federal, a Justiça e o Ministério Público Federal.
Ao falar sobre corrupção e fazer críticas ao Partido dos
Trabalhadores (PT), Barbosa foi aplaudido várias vezes durante sua
palestra sobre ética e administração, na noite de quinta-feira (16), no
centro de convenções Centrosul. “Quem está combatendo é o Ministério
Público Federal, a Polícia Federal e a Justiça. Eles não têm nada a ver
com isso. Nunca se combateu tanto a corrupção, mentira”, afirmou
Barbosa.
O ex-presidente do STF não poupou críticas ao modelo político atual,
que, segundo ele, favorece à prática da corrupção. Ao responder uma
pergunta de uma pessoa da plateia, Barbosa disse que não poderia
quantificar se a corrupção apontada ao Partido dos Trabalhadores (PT)
era maior, menor ou igual aos governos anteriores. No entanto, disse que
o PT tem adotado uma retórica “um pouco cínica”. “Eles alegam: nós não
inventamos a corrupção, sempre houve corrupção na vida brasileira, ou
seja, é como se tivesse chegado a vez dele”, respondeu com ironia. A
plateia riu e aplaudiu Barbosa.
Ele contou que não é militante político, mas votou no Lula duas vezes
e uma vez na presidente Dilma Rousseff. E que no início do partido
havia uma fé como se o PT tivesse vindo “redimir os nossos pecados.”
“Mas o partido, num determinado momento não soube se expurgar,
especialmente da sua cúpula, das pessoas que visivelmente se utilizaram
da filiação ou da sua posição de poder dentro do partido para enriquecer
e se corromper. A visão messiânica, como uma seita, que seriam imunes à
corrupção, permitiram chegar ao nível que está” , disse.
Ao falar da inclusão de pessoa jurídica passível de punição, prevista
na Lei Anticorrupção, Barbosa disse que o motivo está na redução, por
decreto, do percentual da multa de 20% para 5% sobre o faturamento das
empresas envolvidas nesse tipo de crime.
“As penas são 0,1% a 20% sobre o faturamento. Mas, nas últimas
semanas, ocorreram fatos que colocam em xeque, ao meu ver, essa vontade,
esse comprometimento do Estado brasileiro em combater verdadeiramente a
prática de corrupção. O governo federal, ao regulamentar a lei, baixou
um decreto, certamente influenciado pelos fatos que nos assolam a todos
os brasileiros há meses, limitando essa punição a apenas 5% do
faturamento, o que demonstra, a meu ver, a vontade”, disse.
Agência O Globo