Em pouco mais de uma
hora, o consumo provoca a exposição a componentes tóxicos presentes em 100
cigarros
Fumar tabaco usando o tradicional cachimbo árabe é um
costume centenário no Oriente e que recentemente chegou aos bares e cafés
brasileiros, atraindo, principalmente, a atenção dos jovens. Com um aroma
agradável, o narguilé consegue disfarçar malefícios que, segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS), são mais severos do que os do cigarro. Para se ter uma
ideia, uma sessão média do produto equivale ao consumo de 100 cigarros.
Normalmente compartilhada em confraternizações e encontros de amigos, a piteira
do narguilé é outro ponto que chama a atenção dos especialistas. De boca em
boca, ela aumenta as chances de transmissão de doenças graves, como a hepatite
C.
Tamanhos estragos fizeram com que o narguilé se
transformasse no alvo do Dia Nacional de Combate ao Fumo, celebrado amanhã. O
Instituto Nacional de Câncer, responsável pelas atividades que acontecerão no
país, em conjunto com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
constatou que o cachimbo já é usado por pelo menos 300 mil pessoas no Brasil.
Pneumologista do Hospital Anchieta e professor da
Universidade de Brasília (UnB), Carlos Alberto de Assis Viega ressalta que a
inalação do monóxido de carbono (CO), substância responsável por doenças
cardiovasculares, é um dos principais problemas desse tipo de cachimbo. “A
fumaça dele tem maior concentração de CO porque, além do tabaco, há o carvão”,
explica o médico. Em termos de nicotina, há uma concentração um pouco maior do
que a encontrada no cigarro.
De acordo com um grupo de pesquisa na área da Universidade
da Califórnia, o Tobacco-Related Disease Research Program, 45 a 60 minutos de
consumo de narguilé expõem o fumante à mesma quantidade de nicotina encontrada
em um maço de cigarro. “As pessoas acham que a água consegue filtrar a
nicotina, mas estão erradas, pois essa substância não é solúvel em água”,
esclarece Viegas. Outro equívoco cometido pelos usuários é acreditar que alguns
produtos utilizados no narguilé são livres de nicotina.
“Se você ler a caixinha com uma lupa, verá que há, sim,
nicotina. As essências ajudam a melhorar o paladar e fazem com que a pessoa
trague com maior profundidade e intensidade, mas não existe tabaco para
narguilé sem a nicotina”, alerta o pneumologista, que destaca ainda o risco da
transmissão de doenças pela piteira, como herpes, hepatite C e tuberculose.
Viegas chama também a atenção para outro hábito perigoso que envolve o uso do
narguilé: a mistura de maconha, vodca, tabaco e essência no mesmo recipiente.
“Esses jovens estão inalando três drogas. Isso está acontecendo com frequência
e é muito mais grave.”
Exemplo familiar
Dados da pesquisa Vigilância de Tabagismo em Escolares
(Vigescola), do Ministério da Saúde, revelam que de 20% a 45% dos adolescentes
de 13 a 15 anos já experimentaram cigarro e pelo menos 10% fumam. Segundo a Sociedade
Brasileira de Cardiologia (SBC), o exemplo vem de casa. Pais (52%), mães (44%)
e irmãos (36%) dos alunos fumantes também são viciados em tabaco. “As crianças
até conhecem os riscos, mas seguem o modelo de comportamento visto em casa.
Entendem que aquilo é normal e, quando dão por si, também estão fumando”,
analisa Márcio Gonçalves de Sousa, coordenador do Comitê de Controle do
Tabagismo da SBC.
Sousa ressalta que a vaidade muitas vezes leva as
adolescentes ao vício, já que um dos efeitos mais evidentes do tabaco é a perda
de apetite. “O cigarro é estimulante e acelera o metabolismo. A indústria
percebeu que, hoje, a bola da vez são as jovens. Por isso o lançamento de
embalagens e latinhas coloridas e cigarros cada vez mais finos, que remetem à
silhueta esbelta”, observa o médico, que também alerta para o fumo passivo.
Segundo ele, há diariamente sete mortes relacionadas a essa situação no país.
“As partículas do cigarro ficam na roupa e no cabelo, e não
apenas no ar. A criança é mais suscetível, pois possui o pulmão virgem, fazendo
com que as células de defesa entrem em guerra com o corpo. Há ainda os
componentes alérgicos relacionados à exposição crônica à fumaça, que tem 10
vezes mais nicotina”, explica Márcio.
Por Saúde ´Plena