Um
dia depois de lançar Marina Silva como candidata à Presidência no lugar
de Eduardo Campos, morto tragicamente na semana passada, o PSB teve seu
primeiro problema com a nova configuração da nova chapa, que tem o
deputado socialista Beto Albuquerque como vice de Marina. O coordenador
geral da campanha, Carlos Siqueira, primeiro-secretário do PSB, resolveu
deixar o posto por divergências com a Rede, de Marina. À noite, o PSB
divulgou nota oficial informando que Luiza Erundina assumirá seu lugar.
“O
Presidente Nacional do Partido Socialista Brasileiro, Roberto Amaral,
designou a deputada Luiza Erundina (SP) para coordenar a campanha da
Coligação “Unidos Pelo Brasil”. Luiza Erundina substitui Carlos Siqueira
na coordenação geral da campanha”, diz o cumunicado.
A escolha de
Erundina foi acertada durante uma reunião entre Amaral, Siqueira e
Marcio França, presidente do PSB paulista, na noite desta quinta-feira,
no comitê central da campanha presidencial em São Paulo. Erundina é um
dos integrantes do PSB mais próximos de Marina.
A saída de
Siqueira teria sido provocada pela nomeação de Walter Feldman (PSB),
aliado de Marina na Rede, como coordenador adjunto da campanha. O
coordenador de mobilização e articulação, Milton Coelho, também informou
à legenda que deixará o posto na campanha e voltará para Pernambuco.
Após
reunião, Siqueira mostrou-se irredutível na decisão, apesar de ter
recebido apelo de Feldman e de Marina para que permanecesse.
-
Marina não representa o legado de Eduardo Campos, se comportou muito mal
comigo e não aceito isso. Eu que não quis ficar na coordenação dela.
Não aceito, não continuarei na coordenação da campanha porque meu
compromisso era com Eduardo Campos. Ela não representa o legado dele,
ela está muito longe de representar o legado. Eram muto diferente
politicamente, ideologicamente, em todos os sentidos – afirmou ele.
Siqueira afirmou deixar a coordenação sem mágoas, mas tratou Marina como “hospedeira” da sigla.
-
Não tenho mágoa nenhuma, mas como se está numa instituição como
hospedeira, que é o que ela é, tem que se respeitar a instituição e não
querer mandar na instituição. Ela que vá mandar na Rede dela, não no
PSB. No PSB, mandamos nós – queixou-se ele.
Segundo ele, Marina
trocou de forma unilateral o tesoureiro da campanha ao indicar Bazileu
Margarido, tirando Henrique Costa do cargo.
- Chegou e disse que o
tesoureiro iria ser o fulano, sem discutir isso com o partido. Essa
forma de proceder não está de acordo com um partido que está oferecendo a
ela todas as condições para ela ser candidata – disse.
O dirigente do PSB ainda citou Renata Campos, dizendo que viúva de Eduardo Campos “não deve saber o que está se passando”:
-
Não falou comigo e não deve saber o que está se passando. Mas ela é uma
mulher inteligente e capaz, e vai saber que não podemos oferecer uma
candidatura que procede dessa maneira.
Participaram da reunião
nesta quinta-feira Marina, Walter Feldman, o presidente do PSB, Roberto
Amaral, e os presidentes dos partidos que integram a coligação. Após o
encontro, Marina disse que “dor pela morte de Eduardo Campos levou
coordenador a deixar campanha”.
Segundo participantes da reunião
de ontem, na qual Siqueira anunciou sua decisão, Marina tentou fazer com
que ele ficasse na coordenação, mas não conseguiu.
Bazileu
Margarido, coordenador do comitê financeiro da campanha e pessoa de
extrema confiança de Marina, afirma que Siqueira não entendeu o gesto da
ex-senadora ao exigir a entrada de Walter Feldman como adjunto, e se
sentiu desprestigiado, quando na verdade a ideia da candidata era
justamente apoiar Siqueira como coordenador.
— Ele entendeu errado
o gesto de Marina. A indicação de Walter Feldman como adjunto era uma
forma de chancelar Siqueira como coordenador — disse Bazileu, admitindo
não acreditar que a decisão do socialista seja reversível.
Um
senador ligado a Siqueira tentou minimizar o episódio, dizendo que ele
era muito ligado a Eduardo Campos e que agora, como mudou a chapa, é
natural que haja substituição no mais alto posto da campanha para que
alguém mais ligado à nova candidata assuma o lugar.
Segundo o
senador, a decisão foi anunciada por Siqueira ainda ontem durante a
reunião. A cúpula do partido ainda tentou demovê-lo, mas ele não cedeu.
NANICOS SE DIZEM SURPRESOS
Presidentes
de partidos que integram a coligação do PSB, ainda não haviam sido
informados oficialmente da saída de Siqueira quando contatados pelo
GLOBO, no fim da manhã desta quinta-feira. O deputado federal Roberto
Freire, presidente nacional do PPS, afirmou ter sido “surpreendido” pela
notícia, mas que, apesar da possibilidade de “discordar da decisão e
lamentar”, vão manter o apoio à candidatura de Marina.
— Difícil
dizer. O PPS o tem (Siqueira) em alta conta, muito alta conta. Não sei o
que aconteceu, mas ele tem sempre nosso respeito, vamos procurar
entender o que foi. Você pode até discordar, lamentar, mas isso não é
motivo para que você deixe de apoiar uma alternativa ao governo que aí
está que viabilize um segundo turno e dê chance de derrotar o PT. Esse é
o objetivo maior.
Já Eduardo Machado, presidente nacional do PHS,
afirmou que a legenda segue na chapa do PSB mesmo após a decisão de
Siqueira. Ele voltou a afirmar que o PSB errou ao não consultar a sigla
sobre a candidatura de Marina e Beto Albuquerque.
— Vamos seguir
na chapa mesmo com a saída. Isso independe. Até porque eu acredito que o
PSB errou muito com a gente, não vou esconder isso, mas a causa maior é
com o Brasil.
Ovasco Resende, presidente nacional do PRP, se disse surpreso com a notícia da saída de Carlos Siqueira.
—
Vai ser uma coisa muito chata, é uma pessoa que estava muito ligada ao
Eduardo. Eu falei com o Carlos Siqueira ontem e ele disse que estava
tudo certo, tudo tranquilo. Vínhamos nos falando – afirmou Ovasco, que
declarou que existem pessoas do PSB que podem substituir Siqueira, mas
que ainda é preciso ouvir o presidente nacional do PSB, Roberto Amaral.
Miguel
Manso, secretário de Organização do PPL, contou ter conversado com
integrantes da Rede Sustentabilidade ontem, mas não soube de nenhum mal
entendido e que o que ficou acertado é que Walter Feldman (PSB)
dividiria a coordenação com Siqueira para que houvesse um “equilíbrio de
forças”.
Nesta quinta-feira, o presidente do Partido Social
Liberal Nacional (PSL) afirmou ao GLOBO que a legenda vai deixar a
coligação. Luciano Brivar disse que a sigla está “desconfortável” com
Marina, que o político afirma estar “assoberbada”, encabeçando a chapa.
— A gente não foi ouvido em nada. Temos conhecimento dessa coisa toda, mas a gente está muito desconfortável — declarou.
G1