Um Estado onde oito em cada 10 homicídios são provocados por armas
de fogo é a prova de que a campanha do desarmamento ainda não surtiu
efeito contra a cultura da “bala”. Este ano, 116 armas foram entregues
voluntariamente, na Paraíba. Outras 439 foram apreendidas pelas polícias
Militar e Civil. Parece muito, mas, se o levantamento feito em 2011
pela ONG Viva Rio estiver correto, ainda há um arsenal de mais de 154
mil armas com a população paraibana (além das que estão com as Forças
Armadas). Hoje, véspera do Dia do Desarmamento Infantil, restam apenas
as lembranças de quando as únicas armas em que os meninos pegavam eram
as de brinquedo. Hoje, elas sequer ocupam as prateleiras das lojas. O
preocupante é saber que há um exército de crianças e adolescentes com
armas de verdade, formados por traficantes. Desarmar a infância nunca
foi tão necessário.
“Temos observado que a
maioria dos homicídios envolve jovens, seja na autoria ou como vítima,
principalmente na faixa entre 14 e 25 anos. É preocupante, porque,
muitos desses casos estão relacionados ao consumo e ao tráfico de
drogas. Há sempre um adulto por trás dessa criança ou adolescente que
porta uma arma. Praticamente, nem se fala mais em arma de brinquedo, por
causa dos trabalhos de conscientização. A realidade atual é lamentável,
porque antes nos preocupávamos apenas em tirar as armas de brinquedo
das crianças. Hoje, são armas de verdade”, afirma o secretário de
Segurança e Defesa Social do Estado, Cláudio Lima.
No
País, a Paraíba é o 13º no ranking dos Estados que mais entregaram
armas voluntariamente, no ano passado. Segundo dados da Secretaria
Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, foram 310, o
equivalente a uma taxa de 8,23 armas para cada 100 mil habitantes. O
índice fica bem aquém da Bahia, líder nesse quesito (33,86). A taxa
também é quase a metade da brasileira, (14,33).
Menos 27%
Em
números absolutos, o ano passado fechou com uma redução de 27% nas
entregas voluntárias de armas, tendo em vista que 2011 registrou apenas
424 entregas. O total recolhido nos dois anos (734) é quase 10 vezes
inferior ao Estado com maior quantidade absoluta – São Paulo (7.877).
Em 2013
O
montante paraibano entregue nos últimos dois anos representa apenas
1,1% do total nacional (62.099). Considerando apenas este ano, a
situação se repete: até o último domingo, foram apenas 116 armas, 1,1%
da quantidade obtida em todo o Brasil (10.076).
58% ilegais
Levantamento
da ONG Viva Rio mostrou que 266.580 armas circulam na Paraíba e 58%
delas (154 mil) são ilegais. Apenas 10% (cerca de 26 mil) estão nas mãos
das Forças Armadas.
Raridade
Armas de brinquedo já não aparecem nas prateleiras das lojas; pistola d’água é um dos poucos exemplos.
Quantidade proporcional
Embora
lembre que o porte de armas não traga nenhuma garantia de segurança, o
superintendente da Polícia Federal na Paraíba, Marcelo Diniz Cordeiro,
explica que o número de armas entregues no Estado é proporcional a
diversas variantes. “(A quantidade) vai depender da geografia do Estado e
da questão populacional. Em regiões de fronteira, é natural que se
encontre com mais regularidade mais armas e se façam mais apreensões”, disse.
Por Jean Ganso, Com Portal Correio