Mas era necessário trabalhar com uma atividade próxima à realidade delas. Chegou-se à conclusão que tinha de ser com terra.
A outra opção era investir na plantação de bananas, negócio não muito rentável, visto que era preciso concorrer com grandes proprietários de terra. “Diante dessa realidade sentimos a necessidade de fazer alguma coisa para ter uma renda”, diz.
Após testes, perceberam que no brejo a flor daria certo. O terreno de Maria Helena foi doado ao grupo. Em troca, a associação oferecia 10% da renda.
Projeto pioneiro já foi premiado
O percurso foi marcado por dificuldades. Ninguém acreditava nelas: nem o banco, nem os amigos, nem os próprios maridos. Com exceção do Sebrae-PB, serviço de apoio às micro e pequenas empresas, que de imediato acreditou na iniciativa e passou a apoiar o sonho daquelas mulheres. Surgia a Cofep (Cooperativa de Flores de Pilões).
Agora, o projeto pioneiro é sinônimo de sucesso e conta com o apoio do Banco do Brasil e do Governo da Paraíba. De acordo com a cooperativa, por mês são produzidos, em média, 700 pacotes de flores. No início eram 200.
O rendimento mensal é muito variável, mas nunca inferior a R$15 mil. A cooperativa trabalha com 12 variedades de flores, desde a rosa vermelha até a gérbera. O objetivo é ampliar a produção para mil pacotes até o próximo ano.
Mulheres enfrentaram resistência em casa, mas hoje colhem reconhecimento
Até 1999, em Pilões, a única ocupação das mulheres era ficar em casa tomando conta das crianças, enquanto os maridos trabalhavam em uma usina da cidade, que declarou falência e deixou várias famílias sem nenhuma perspectiva de vida.
A situação era difícil. Sem emprego, alguns arriscaram ir embora para São Paulo ou Rio de Janeiro, na esperança de uma vida mais digna. De uma forma geral, a pobreza predominava nas casas daquelas famílias.
Mas nada foi fácil. As mulheres tiveram de enfrentar o machismo de seus maridos, que não aceitavam a ideia. “Achavam loucura”, conta Maria Helena. As flores, símbolo do amor e do romantismo, por pouco não causou divórcio na localidade.
Nada disso foi mais forte que a força de vontade. “Chegamos a pensar em fábrica de redes, de doces, de sandálias, mas depois vimos que o melhor mesmo era cultivar flores”, declara.
As mulheres de Pilões quebraram as barreiras e o machismo. Hoje, trabalham na cooperativa 22 mulheres e seis homens. “As flores trouxeram renda e até melhoraram a convivência com nossos maridos. A vida agora é outra. Tudo são flores”, diz.
Por Jean Ganso,com UOL