Com os pés sujos de areia e cansado pelo transporte pesado de material reciclável coletado do lixo, Sandoval Márcio da Silva olha, desolado, para as condições precárias da casa onde mora.
O casebre feito de paus e barro, com pouco mais de cinco metros quadrados, é a única propriedade que ele conseguiu adquirir ao longo de 48 anos de vida.
Castigada pelo sol e chuva, a moradia já está inclinada, marcada por fissuras, buracos e parece que vai desabar a qualquer momento. “Trabalho com artesanato. O que ganho mal dá para comer. Não tenho condições de comprar uma casa melhor”, lamenta Sandoval, com tom preocupado.
Residente da comunidade Trapiche, criada ao lado da Estação Ferroviária em João Pessoa, Sandoval divide com outras 50 famílias o mesmo drama. Todos vivem em casas de taipa, que não oferecem nenhuma segurança física e ameaçam cair a cada período chuvoso. A comunidade já está cadastrada em programas habitacionais da prefeitura, mas perde dia após dia a esperança de sair do local.
“Minha casa era de taipa e caiu por causa da chuva. Perdi tudo o que tinha. Saí de lá e aluguei outra casa aqui mesmo, também de taipa. Tenho medo desta também vir abaixo porque está cheia de rachadura. É tanto sofrimento que nem acredito mais que um dia vou sair daqui”, desabafou Sandra Silva de Araújo.
Moradora há 12 anos na comunidade, Sandra conta que o risco do desabamento é o maior, mas não é o único problema das casas humildes. Sem revestimentos, as precárias moradias também escondem insetos que ameaçam a saúde. Ratos, baratas, mosquitos e até aranhas e escorpiões são inimigos presentes.
Outro perigo vem do piso. O chão de terra batida, sem cimento, é cheio de buracos e põem abaixo quem não ficar atento.
Deficiente física, Sandra já caiu várias vezes dentro de casa. “Eu tenho apenas uma perna e uso muleta. Preciso andar, com cuidado, me segurando nas coisas”, revela.
As dificuldades estão presentes também nos banheiros. Na comunidade Trapiche, há apenas um pequeno cômodo, construído pelos próprios moradores, que é usado pelas 40 famílias do local. O ambiente, também feito em taipa, não tem nenhuma estrutura mínima de higiene sanitária. O esgoto é despejado ao ar livre e afeta diretamente as crianças.
“Os meninos daqui vivem doentes, com dengue, febre, verme.
Não tem como evitar. Além dos esgotos, há muito lixo por aqui”, reclama a moradora Maria José Pinheiro da Silva.
Segundo o Censo Demográfico feito em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de cinco milhões de brasileiros vivem em casas irregulares atualmente.
São precisamente 5.110.196 unidades no país. Destas, 925.160 são de taipa. As demais são feitas de madeira e palha. Na Paraíba, são 30.723 casas nessa situação. Entre elas, 28.923 são moradias de taipa, outras 1.547 são de madeira e 253 lares feitos de palha.
Por Jean Ganso,com JP