O ramo egípcio do grupo jihadista Estado Islâmico (EI) afirmou neste sábado (31) no Twitter ser o responsável pela queda do avião da companhia áerea russa Kogalim Avia,
também conhecida como Metrojet, que caiu no Sinai egípcio, causando 224
mortes. As informações são das agências de notícias France Presse e
Reuters.
Apesar da reivindicação do grupo, uma primeira análise do
local do acidente indica que a queda poderia ter sido causada por uma
falha técnica.
“Os soldados do Califado foram capazes de derrubar
um avião russo na província do Sinai que transportava mais de 220
cruzados que foram todos mortos”, afirma o grupo extremista em um
comunicado publicado em suas contas no Twitter, indicando que agiu em
retaliação à intervenção russa na Síria.
O voo saiu de uma cidade
no litoral do Egito e seguia para São Petersburgo, na Rússia. Cerca de
150 corpos foram encontrados em um raio de 5km.
O Airbus A-321
transportava 217 passageiros, entre eles 138 mulheres, 62 homens e 17
crianças, além de 7 tripulantes. Segundo a Reuters, 214 eram russos e
três ucranianos. “Agora vejo uma cena trágica. Muitos mortos no chão e
outros tantos ainda presos em suas poltronas”, relatou uma autoridade
egípcia. Segundo ele, o avião se dividiu em duas partes.
O
primeiro-ministro egípcio, Ismail Sharif, confirmou o acidente por meio
de comunicado. O avião perdeu contato com os radares 23 minutos após a
decolagem, quando sobrevoava a cidade de Larnaka, informou um porta-voz
de Rosaviatsia, a agência de aviação civil da Rússia. O contato foi
perdido quando a aeronave estava a 30.000 pés de altitude (9.144 m).
O
avião caiu em uma área montanhosa no centro de Sinai e más condições
atmosféricas dificultaram o acesso das equipes de resgate ao local, de
acordo com a autoridade da segurança egípcia que havia acabado de chegar
ao local contou à Reuters. Cerca de 50 ambulâncias foram enviadas para o
local. Os corpos dos passageiros serão levados de avião para o Cairo,
segundo a fonte.
Amostras de DNA serão coletadas dos parentes dos
passageiros que estavam a bordo do avião, conforme informou o comitê de
políticas sociais da Rússia.
Parentes dos passageiros estão se
reunindo no balcão de informações da Kogalymavia no aeroporto de
Pulkovo, em São Petersburgo, com a esperança de encontrar mais
informações. O voo 9268 transportava muitos turistas do resort egípcio
de Sharm el-Sheikh.
Equipes de resgate russas no Egito
O
presidente russo, Vladimir Putin, expressou suas “profundas
condolências” às famílias das vítimas e ordenou o envio de equipes de
emergência russas para o local da queda. Putin decretou luto nacional no
domingo (1º).
Putin falou ao telefone com Abdel Fatah al-Sisi,
presidente do Egito, para discutir a queda do avião russo no país.
Al-Sisi ofereceu profundas condolências e prometeu criar condições para
uma participação mais ampla possível de especialistas russos na
investigação do acidente, segundo o Kremlin.
O premiê russo Dmitry
Medvedev disse, em mensagem publicada no Twitter, que está
profundamente chocado pela queda do avião. “A tragédia será
exaustivamente investigada, e as famílias receberão apoio.”
Segundo
a agência de notícias russa, o ministro da Defesa da Rússia convocou
uma reunião de ermergência para discutir a queda do avião. No total,
cinco aviões com especialistas em várias áreas estão a caminho do Egito.
O
Comitê de Investigação da Rússia lançou um processo criminal contra a
companhia aérea Kogalymavia. A agência de notícias RIA informou que o
caso será investigado pelo artigo de “violação das regras de voos e
preparações”.
Detalhes sobre a aeronave
A
Airbus, fabricante do A-321, informou que dará mais informações assim
que tiver mais detalhes sobre o acidente. Veja a íntegra do comunicado
da empresa:
“A aeronave envolvida no acidente, registado sob o
número de série EI-ETJ 663, foi produzido em 1997 e desde 2012 operado
pela Metrojet. A aeronave tinha acumuladas cerca de 56.000 horas de voo
em cerca de 21.000 vôos. Ele foi equipado com motores IAE V2500.
Em
conformidade a lei, um grupo de técnicos da Airbus foi destacada para
fornecer as informações às autoridades encarregadas da investigação.
O
A321-200 é o maior membro da família A320, com capacidade para 240
passageiros. O primeiro A321 entrou em serviço em janeiro de 1994. Até o
final de setembro de 2015, cerca de 6.500 aeronaves da família A320
estavam em serviço com mais de 300 operadoras. Até à data, toda a frota
já acumulou cerca de 168 milhões de horas voadas em 92,5 milhões de
voos.
A Airbus dará mais informações disponíveis assim
que os detalhes forem confirmados e liberados pelas autoridades para a
divulgação.”
Último acidente aéreo no Egito
O último acidente aéreo no Egito foi em janeiro de 2004 e fez 148 mortos, incluindo 134 turistas franceses. Um Boeing 737 da empresa egípcia Flash Airlines caiu no Mar Vermelho, poucos minutos depois de decolar do aeroporto de Sharm el-Sheikh.
Desde o início em 2011 da
revolta que derrubou Hosni Mubarak do poder, o turismo está fraco e as
autoridades tentam relançar de todas as maneiras esse setor vital da
economia egípcia.
Apesar da instabilidade política do país e os
atentados jihadistas contra as forças de segurança no norte do Sinai, os
resorts do Mar Vermelho, no sul da península, continuam sendo um dos
principais destinos turísticos do país e muito frequentados por turistas
russos e do leste europeu, que chegam diariamente a bordo de vários
voos fretados.
Estado Islâmico
O Estado Islâmico (EI), também conhecido como Daesh ou ISIS, é um grupo radical sunita (um dos ramos do islamismo) criado a partir do braço iraquiano da Al-Qaeda, a conhecida rede responsável pelos ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
Com maior capacidade de recrutamento,
mais estrutura e com um território conquistado entre o Iraque e a Síria,
o EI tem atraído milhares de jovens do mundo todo – segundo o Centro de
Estudos do Radicalismo, mais de 20 mil estrangeiros de 50 países se
juntaram a grupos sunitas radicais em 2014 – entre eles, principalmente,
o Estado Islâmico.
O EI segue uma leitura radical das escrituras
islâmicas e tem uma visão sectária antixiita.A sharia, lei islâmica, é
seguida de forma rígida e práticas como a decapitação de inimigos e a
pena de morte a homossexuais são amplamente usadas.
O EI é regido
pelo autoproclamado califa Abu Bakr al-Bagdadi, dois vices e alguns
conselheiros, que auxiliam com questões de diferenças religiosas,
execuções e assuntos políticos. Em abril, o jornal “The Guardian”
noticiou que al-Bagdadi ficou gravemente ferido após um ataque aéreo no
Iraque realizado pela coalizão internacional liderada pelos Estados
Unidos, mas o próprio EI ainda não divulgou nada a respeito.
O
Estado Islâmico se originou em meio a práticas terroristas da rede
Al-Qaeda, mas desenvolveu seu próprio modo de agir. Entre as diferenças
que causaram a separação dos dois grupos estão a apropriação de
territórios e a formação de um califado.
O EI também usa a
violência generalizada contra muçulmanos xiitas – além de não islâmicos,
que eles chamam de “infiéis”. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos
estima que mais de 2.600 pessoas foram executadas pelo EI desde a
proclamação do seu califado.
Dentro do califado, as regras de vida
são rígidas e baseadas na sharia – lei islâmica. Outra inovação em
relação à Al-Qaeda é o pagamento para os combatentes. Segundo uma
reportagem da revista “The Economist”, cada guerrilheiro que luta em
nome do grupo recebe um salário de US$ 400 mensais, valor bem superior
ao que grupos jihadistas iraquianos ou que o Exército sírio paga a seus
combatentes. Além de uma contribuição mensal, os militantes recebem
dinheiro ao se casar, para ajudá-los a começar uma família.
G1