Uma expressão que vem sendo utilizada com frequência por políticos em
Brasília diz que os melhores aliados acompanham seus pares alvejados
por todo o cortejo fúnebre até chegar à cova, mas jamais pulam juntos
dentro do túmulo. É com esse pensamento que pessoas do círculo mais
próximo ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vêm
conversando nos últimos dias sobre a melhor forma de levar ao
peemedebista o alerta de que ele deve, para o bem de todos, construir
uma “saída alternativa” para evitar a cassação do seu mandato no
Conselho de Ética.
Eles voltaram a defender que Cunha se afaste da presidência da Casa
para tentar preservar seu mandato e ser julgado no colegiado “apenas
como mais um deputado”, já que existem dezenas de outros também
investigados no esquema de corrupção da Petrobras e que sequer foram
denunciados. A chamada “solução Renan”, uma referência ao presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) que, em 2007, renunciou ao cargo para
evitar uma cassação, foi levantada há algum tempo como a melhor opção
para Cunha, mas sua reação frontal desencorajou os aliados a insistirem
na tese naquele momento.
Agora que Cunha perdeu o benefício da dúvida ao apresentar uma defesa
por muitos considerada capenga, a alternativa voltou a ganhar força.
Ela cresce à medida em que aumenta o incômodo entre aqueles que se
sentem desgastados e intimidados a continuar a apoiá-lo. Pontos da
defesa que apresentou à imprensa há cerca de duas semanas vêm sendo
descontruídos com novas revelações e o “timing” calculado pelos aliados
para a abordagem deverá ocorrer quando o peemedebista sofrer o próximo
“baque”.
Um interlocutor próximo a Cunha diz que, se ele se afastar da
presidência, irá para a “vala comum”, junto a outros na mesma situação, o
que facilitaria um acordo de preservação. A prioridade, advogam, deve
ser manter o mandato que lhe proporciona foro privilegiado. Se perdê-lo,
Cunha, sua mulher, a jornalista Cláudia Cruz, e sua filha Danielle
correm o risco de cair nas mãos do juiz Sérgio Moro, que vem se
mostrando implacável com os envolvidos em corrupção.
Para outros menos otimistas, a esta altura do desenrolar dos fatos,
mesmo com a renúncia à presidência da Câmara não seria possível garantir
com segurança a salvação de Cunha no conselho.
— Vamos juntar algumas pessoas da relação mais próxima a ele para
dizer que a situação se deteriora cada vez mais e que ele precisa achar
uma alternativa. Se ele tivesse segurança que, renunciando à
presidência, o conselho o salvaria, seria mais fácil ele acatar nossa
sugestão. Mas até isso está difícil, porque todo dia ele perde um pouco
mais de apoio e desgasta os aliados — afirma um dos deputados que está à
frente do processo de convencimento.
A avaliação generalizada entre os “cunhistas” é que a exposição que
os aliados vêm sofrendo tem crescido. Vários dos líderes que assinaram
na semana passada nota de apoio, depois que o PSDB decidiu romper a
aliança com o peemedebista, dizem que as demonstrações de amizade se
encerraram naquele episódio. E destacam que o texto, chancelado por
PMDB, PR, PP, PSD, PTB e PSC, não é uma garantia de sustentação a
qualquer preço, pois apenas pleiteia o direito de defesa e a não
interrupção dos trabalhos na Câmara.
— O apoio está ficando cada vez mais rarefeito, mas ele parece que não quer perceber isso — diz outro político próximo a Cunha.
A certeza cada vez maior de que o processo por quebra de decoro
seguirá adiante e as cobranças nas bases eleitorais levaram esses
deputados a voltar a defender a “solução Renan”. Mesmo para os
entusiastas do impeachment, há a impressão de que o processo perde
legitimidade se conduzido por Cunha.
Fonte: MSN/Brasil