Roberta Abath, secretária de Saúde do Estado: econômica nas palavras, intensa na dedicação das ações |
Roberta
Abath, a secretária de Saúde da Paraíba, evita ao máximo entrevistas.
Isso para os jornalistas, feito eu, é péssimo. Ruim porque precisamos de
palavras para dar forma ao conteúdo do nosso trabalho de informar ao
público e, especialmente, gerar audiência. E saúde pública dá ‘ibope’.
Econômica
no verbo, ela liderou por duas semanas e concluiu nesse o projeto da
Caravana do Coração, um esforço concentrado de equipes
multidisciplinares formada por estudiosos e especialistas do mundo
inteiro, para atendimento a gestantes e recém-nascidos. Gente pobre que
jamais teria esse direito e ‘privilégio’ se tivesse que arcar com os
custos.
A Caravana vez sua última parada em Itabaiana, depois de
Monteiro, Princesa, Itaporanga, Cajazeiras, Sousa, Catolé do Rocha,
Pombal, Patos, Picuí, Esperança, Guarabira e Mamanguape. Por onde passou
deixou respeito e cidadania e levou grandes experiências, aprendizado e
subsídio para pesquisas.
Pouca gente sabe, mas geneticistas,
infectologistas, cardiologistas, enfermeiros, terapeutas, e tantos
outros profissionais de múltiplas nacionalidades, igualmente
reverenciados em seus países de origem, participam desse trabalho,
possível graças à interlocução da secretária, que deflagrou esse
processo quando da sua participação em Londres de um Congresso
Internacional apresentou a experiência paraibana. Não por acaso, a BBC
se interessou pelo trabalho e acompanhou tudo para produzir um
documentário.
Pela dimensão do que representa para a comunidade
científica internacional, a presença desses profissionais na Paraíba não
se mede. Tem um significado e representação muito maior do que se possa
calcular e vai muito além do nosso tamanho e envergadura no mapa
brasileiro. A pequena Paraíba mostra-se grande.
Nos bastidores
desse trabalho, muita gente testemunha a simplicidade pedagógica da
secretária. Técnicas em enfermagem, por exemplo, se surpreendem quando
assistem Roberta pegar uma vassoura e despojadamente varrer a
dependência do Hospital Regional de Cajazeiras que seria usada para
atendimento das crianças e gestantes. São muitas as vezes que ela se
emociona e chora durante visitas a unidades e em inaugurações de novos
serviços.
Ao invés de ficar no seu gabinete na semana ou em casa
no fim de semana, ela faz questão de ir com a equipe no ônibus da
Caravana. Lá, exercitou duas vocações: a devoção pelo exercício da
Medicina e o seu latente instinto materno. Em Sousa, enquanto a
coordenadora da caravana Sandra Matos se desdobrava nas atividades,
Roberta cuidava de um adolescente de 13 anos, filho da colega, levando-o
para almoço, cercado de atenções, como se seu fosse.
Por acaso,
encontrei a secretária num desses momentos num restaurante na Cidade
Sorriso. Num canto de parede, quase anônima, ela e um menino ruivo e de
olhos já brilhantes pela profissão da mãe, davam uma pausa para uma
refeição meio corrida.
Nas poucas palavras que consegui
arrancar-lhe, depois de meia hora ‘atrapalhando’ seu almoço, tentando
entender mais sobre a Caravana do Coração e seu alcance, Roberta Abath,
que ouviu e respondeu a questionamentos entre uma gargada e outra,
verbalizou uma frase que vale pelas duzentas pautas que já evitou: “Eu
trabalho no silêncio pra poder falar mais alto”. O suficiente para
entender sua filosofia de vida também resumida numa curta expressão: “O
grau máximo da sabedoria é a simplicidade”.
Nada mais disse. Nada
mais perguntei. Nem precisou. Compreendi que o jornalismo pode até ter
perdido uma entrevistada com potencial de gerar notícia, mas a Saúde
ganhou uma técnica cujo compromisso humano fala mais forte do que
qualquer manchete.
Mais PB