Não é tema que mereça muita atenção, mas quando o farol do absurdo
acende é impossível ficar ancorado no silêncio. Nesse roteiro novelesco
traçado pela ex-primeira-dama do Estado, Pamela Bório – no qual ela é a
única coitadinha e o governador Ricardo Coutinho é o todo-poderoso -,
esconde-se uma farsa, teatralmente encenada, que precisa ser discutida
mais profundamente.
Aos olhos da lei, pode alguém acusar diretamente uma pessoa de crime
sem apresentar, seja em público, na polícia ou diante de juiz, uma prova
sequer de suas acusações, ficando, apesar disso, totalmente imune a
punições ou restrições?
No exercício jornalístico, por exemplo, eu e os colegas jornalistas
sabemos que somos convocados a dar explicações e sofremos as penas
legais todas as vezes que avançamos o sinal dos fatos atingindo a honra
de alguém, seja governador ou não, sem a devida comprovação da acusação.
Mas não é isso que a senhora Pamela Bório, cujo maior título que
ostenta hoje é de ex-primeira-dama, e com ele pretende se colocar como a
Madre Tereza de Calcutá, faz há pelo menos dois anos contra o
ex-marido?
Qual a real contribuição que a senhora Pamela Bório deu a quaisquer
das investigações em curso, além daquilo que diz que vai dizer.
Acostumou-se a dar manchetes sem trazer a reportagem.
Aos olhos da lei, pode alguém fugir da intimação formal de autoridade
policial para prestar depoimento na delegacia e, mesmo assim, ficar
imune?
Seguindo a mesma linha, pode alguém ameaçar uma babá como uma faca
sem ser denunciada? Expor a imagem de uma criança de cinco anos,
usando-a como “mote” para sua vida de “sofrimento e provações”, ao mesmo
tempo que aparece sorrindo nas mais glamourosas festas, portando as
mais caras bolsas, desfrutando dos mais variados tratamentos de beleza,
privilégios que nem as princesas de Orlando possuem (ou tem)?
Pode alguém por ódio atacar o pai de uma criança, sem se importar com os efeitos danosos que pode causar ao menor?
Pode alguém dizer que passa por privações financeiras, mas tem
advogado de escritório caro toda vez que pisca os olhos, contornados por
longos e lindos cílios postiços?
Pode alguém estando casada com outra vazar áudios de discussões
internas a adversários políticos dentro de uma campanha eleitoral?
Poder até pode. Mas não para ficar imune. Seja da lei ou da
reprovação social. Os avanços do nosso arcabouço jurídico, seja no que
diz respeito à garantia dos direitos individuais de imagem e honra, seja
no âmbito do Direito de Família, apontam para uma reflexão e julgamento
sem protecionismo advindo de encenações baratas.
Seja Ricardo Coutinho governador ou fosse ele o funcionário público
na UFPB, não poderia deixar de reivindicar todos os direitos que
considera estarem sendo usurpados. Da mesma forma, seja Pamela Bório
ex-alguma coisa ou não, não poderia ficar sem ter que responder por
aquilo que vem praticando como se tivesse, por ser mulher, bela e
(esqueçamos o recatada e do lar), uma licença permanente para atuar
acima da lei.
Essa é a questão. Considerando que pode jogar sem regras, Pamela
avança todos os sinais e quando é parada na blitz, acusa o governador de
tirania. Mas é o inverso. Não respeitar restrições legais, desobedecer
decisões judiciais, e debochar da Justiça são as principais marcas de
uma tirania. E me parece que Pamela é que vem adotando tal
comportamento.
Esforçando-se no papel de vítima, não percebe que é exatamente a sua
própria imagem que reflete no espelho de suas próprias acusações.
Excessivamente maquiada, certamente, não consegue ver sua verdadeira
face.
Fabiano Gomes