Ele lista episódios que demonstrariam 'desconfiança' da presidente com ele.
Assessoria do vice disse que ele se surpreendeu com divulgação da carta.
Presidente nacional do PMDB, o vice-presidente da República, Michel Temer, enviou uma carta à presidente Dilma Rousseff
nesta segunda-feira (7) na qual apontou episódios que demonstrariam a
"desconfiança" que o governo tem em relação a ele e ao PMDB.
A mensagem, segundo a assessoria da Vice-Presidência, foi enviada em "caráter pessoal" à chefe do Executivo e, nela, ele não "não propôs rompimento" com o governo ou entre partidos, mas defendeu a "reunificação do país".
Temer havia passado os últimos dias sem se pronunciar sobre o acolhimento pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de pedido de abertura de processo de impeachment. Nesta segunda-feira, ele participou de evento público em São Paulo, mas não se manifestou sobre o caso. Os PMDB, principal partido da base, está dividido em relação ao apoio ao processo de impeachement.
A mensagem, segundo a assessoria da Vice-Presidência, foi enviada em "caráter pessoal" à chefe do Executivo e, nela, ele não "não propôs rompimento" com o governo ou entre partidos, mas defendeu a "reunificação do país".
Temer havia passado os últimos dias sem se pronunciar sobre o acolhimento pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de pedido de abertura de processo de impeachment. Nesta segunda-feira, ele participou de evento público em São Paulo, mas não se manifestou sobre o caso. Os PMDB, principal partido da base, está dividido em relação ao apoio ao processo de impeachement.
Num dos trechos da carta, Temer escreve que passou o primeiro mandato
de Dilma como um "vice decorativo", que perdeu "todo protagonismo
político" que teve no passado e que só era chamado "para resolver as
votações do PMDB e as crises políticas". Depois, lista fatos envolvendo
derrotas que sofreu com atos da presidente.
Na carta, ele cita inclusive o caso de Eliseu Padilha, ex-ministro da Aviação Civil que pediu demissão nesta segunda-feira após dias de especulação. Na coletiva de imprensa na qual explicou os motivos da saída do governo, Padilha mencionou, entre outros fatores, a indicação de um técnico para o comando da Agência Nacional de Aviação Civil, feita por ele e barrada pelo governo. Temer citou o caso na carta.
Na carta, ele cita inclusive o caso de Eliseu Padilha, ex-ministro da Aviação Civil que pediu demissão nesta segunda-feira após dias de especulação. Na coletiva de imprensa na qual explicou os motivos da saída do governo, Padilha mencionou, entre outros fatores, a indicação de um técnico para o comando da Agência Nacional de Aviação Civil, feita por ele e barrada pelo governo. Temer citou o caso na carta.
Leia abaixo a íntegra da carta obtida pela GloboNews:
São Paulo, 07 de Dezembro de 2.015.
Senhora Presidente,
"Verba volant, scripta manent" (As palavras voam, os escritos permanecem)
Por
isso lhe escrevo. Muito a propósito do intenso noticiário destes
últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das conversas no
Palácio.
Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo.
Desde
logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a necessidade da
minha lealdade.
Tenho-a revelado ao longo destes cinco anos.
Lealdade
institucional pautada pelo art. 79 da Constituição Federal. Sei quais
são as funções do Vice. À minha natural discrição conectei aquela
derivada daquele dispositivo constitucional.
Entretanto,
sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno
em relação a mim e ao PMDB. Desconfiança incompatível com o que fizemos
para manter o apoio pessoal e partidário ao seu governo.
Basta
ressaltar que na última convenção apenas 59,9% votaram pela aliança. E
só o fizeram, ouso registrar, por que era eu o candidato à reeleição à
Vice.
Tenho mantido a unidade do PMDB apoiando seu
governo usando o prestígio político que tenho advindo da credibilidade e
do respeito que granjeei no partido. Isso tudo não gerou confiança em
mim, Gera desconfiança e menosprezo do governo.
Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles.
1.
Passei os quatro primeiros anos de governo como vice decorativo. A
Senhora sabe disso. Perdi todo protagonismo político que tivera no
passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era chamado para
resolver as votações do PMDB e as crises políticas.
2.
Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir formulações econômicas
ou políticas do país; éramos meros acessórios, secundários,
subsidiários.
3. A senhora, no segundo mandato, à última
hora, não renovou o Ministério da Aviação Civil onde o Moreira Franco
fez belíssimo trabalho elogiado durante a Copa do Mundo. Sabia que ele
era uma indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me. Cheguei a
registrar este fato no dia seguinte, ao telefone.
4. No
episódio Eliseu Padilha, mais recente, ele deixou o Ministério em razão
de muitas "desfeitas", culminando com o que o governo fez a ele,
Ministro, retirando sem nenhum aviso prévio, nome com perfil técnico que
ele, Ministro da área, indicara para a ANAC. Alardeou-se a) que fora
retaliação a mim; b) que ele saiu porque faz parte de uma suposta
"conspiração".
5. Quando a senhora fez um apelo para que
eu assumisse a coordenação política, no momento em que o governo estava
muito desprestigiado, atendi e fizemos, eu e o Padilha, aprovar o ajuste
fiscal.
Tema difícil porque dizia respeito aos trabalhadores e aos
empresários. Não titubeamos. Estava em jogo o país. Quando se aprovou o
ajuste, nada mais do que fazíamos tinha sequência no governo. Os acordos
assumidos no Parlamento não foram cumpridos. Realizamos mais de 60
reuniões de lideres e bancadas ao longo do tempo solicitando apoio com a
nossa credibilidade. Fomos obrigados a deixar aquela coordenação.
6.
De qualquer forma, sou Presidente do PMDB e a senhora resolveu
ignorar-me chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um acordo sem
nenhuma comunicação ao seu Vice e Presidente do Partido. Os dois
ministros, sabe a senhora, foram nomeados por ele. E a senhora não teve a
menor preocupação em eliminar do governo o Deputado Edinho Araújo,
deputado de São Paulo e a mim ligado.
7. Democrata que
sou, converso, sim, senhora Presidente, com a oposição. Sempre o fiz,
pelos 24 anos que passei no Parlamento. Aliás, a primeira medida
provisória do ajuste foi aprovada graças aos 8 (oito) votos do DEM, 6
(seis) do PSB e 3 do PV, recordando que foi aprovado por apenas 22
votos. Sou criticado por isso, numa visão equivocada do nosso sistema. E
não foi sem razão que em duas oportunidades ressaltei que deveríamos
reunificar o país. O Palácio resolveu difundir e criticar.
8.
Recordo, ainda, que a senhora, na posse, manteve reunião de duas horas
com o Vice Presidente Joe Biden - com quem construí boa amizade - sem
convidar-me o que gerou em seus assessores a pergunta: o que é que houve
que numa reunião com o Vice Presidente dos Estados Unidos, o do Brasil
não se faz presente? Antes, no episódio da "espionagem" americana,
quando as conversar começaram a ser retomadas, a senhora mandava o
Ministro da Justiça, para conversar com o Vice Presidente dos Estados
Unidos. Tudo isso tem significado absoluta falta de confiança;
9.
Mais recentemente, conversa nossa (das duas maiores autoridades do
país) foi divulgada e de maneira inverídica sem nenhuma conexão com o
teor da conversa.
10. Até o programa "Uma Ponte para o
Futuro", aplaudido pela sociedade, cujas propostas poderiam ser
utilizadas para recuperar a economia e resgatar a confiança foi tido
como manobra desleal.
11. PMDB tem ciência de que o
governo busca promover a sua divisão, o que já tentou no passado, sem
sucesso. A senhora sabe que, como Presidente do PMDB, devo manter
cauteloso silencio com o objetivo de procurar o que sempre fiz: a
unidade partidária.
Passados estes momentos críticos,
tenho certeza de que o País terá tranquilidade para crescer e consolidar
as conquistas sociais.
Finalmente, sei que a senhora não
tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas
esta é a minha convicção.
Respeitosamente,
\ L TEMER
A Sua Excelência a Senhora
Doutora DILMA ROUSSEFF
DO. Presidente da República do Brasil
Palácio do Planalto