A Universidade Federal da Paraíba possuía uma emissora de rádio aqui
em João Pessoa. Aliás, possuía uma emissora de televisão também. Duas
emissoras, concessões públicas feitas a uma entidade pública, além de
tudo federal. Mas de repente, não mais que de repente, as duas
emissoras - a de rádio e a de tv - mudaram de mãos. Deixaram de ser da
Universidade e foram pertencer a um particular. A Fundação Virginius da
Gama e Melo, que administrava as duas emissoras, continua de pé, mas
vejo, estranhando, claro, que os novos donos das duas emissoras estão
infiltrados nela, na Fundação, sem serem ao menos funcionários
públicos. Pode? Acho que não pode. Aí tem coisa.
A TV da Universidade, se funcionou, dela não tive notícias. Mas
depois que mudou de mãos, passou a competir com as emissoras mais
antigas que aqui fazem praça. Tem programas dos mais variados gostos,
cobre política e polícia e, por orientação dos novos donos, até partido
toma em favor de políticos tais e quais. A rádio, por outro lado,
também está virada na coliê, como a gente dizia lá em nóis na década de
60, chegando até mesmo a empanar a audiência de algumas tradicionais
emissoras da cidade.
Isso é bom? Seria, se não fosse a gravidade da coisa. Um bem público
passa para as mãos de um particular e fica tudo por isso mesmo, tudo
como dantes no quartel dos Abrantes. O novo dono, já com pose de Assis
Chateaubriant tupiniquim, frequenta as altas rodas, arrota importância e
não dá satisfação a ninguém. Mas tem a obrigação de explicar ao
distinto público como obrou o milagre de se apossar de uma concessão
pública que estava em mãos de uma Universidade do povo.
Não digo que tem mutreta porque não posso provar. Mas o professor
Wellington Aguiar diz a quem encontra que houve negociata grossa
envolvendo gente da Fundação Virginius da Gama e Melo e o felizardo
empresário que obrou o milagre de tornar-se dono das duas emissoras.
Cabe aos dois lados explicar. E ao povo da Paraíba deixar de ser
omisso, deixar de aceitar tudo caladinho, como se o rombo feito na
Fundação Virginius não fosse também, por extensão, no seu combalido e
indefeso bolso.
Por Jean Ganso,com Blog do Tião