O Diário Oficial do Estado da Paraíba publicou, neste sábado (30), a
lei nº 10.690 de 29 de abril de 2016, de autoria do deputado estadual
Hervázio Bezerra, que reconhece como Patrimônio Imaterial da Paraíba o
Cordel Pavão Misterioso, de José Camelo de Melo Resende, nascido no
Sítio Pedro Vieira, zona rural de Pilõezinhos (PB).
No artigo 1º da lei, o governador Ricardo Vieira Coutinho (PSB),
decretou que fica reconhecido como Patrimônio Imaterial do Estado da
Paraíba, o Cordel do Pavão Misterioso, de autoria do poeta popular,
cantador, carpinteiro e xilógrafo José Camelo de Melo Resende.
O autor do projeto, deputado Hervázio Bezerra (PSB), disse que foi
incentivado a apresentar a proposta pelo vice-prefeito de Pilõezinhos,
Iraponil Siqueira, com quem também colheu informações adicionais.
Sobre o Pavão Misterioso
A obra Romance do Pavão Misterioso
é o maior clássico do cordel. Folheto mais vendido em todos os tempos,
foi escrito por José Camelo de Melo Rezende no final dos anos 20.
A palavra “romance” no título garante
tratar-se de uma narrativa feita nos moldes tradicionais: tem 32
páginas, em versos de sete sílabas ou redondilhas maiores, e sua matéria
diz respeito a uma aventura de amor e de heroísmo.
O enredo do Romance do Pavão Misterioso é a aventura de um
rapaz, chamado Evangelista, que ao contemplar a beleza de Creuza,
donzela conservada prisioneira pelo conde (seu pai), sente-se invadido
por um forte desejo: tirar a moça do sobrado do conde e tomá-la como
mulher. Evangelista foge com Creuza, ajudado por um pavão mecânico.
O fato de ser mantida reclusa no sobrado, em cuja janela só aparece
uma vez por ano, corresponde a um malefício imposto à donzela. A
Evangelista cabe salvar a vítima da prisão, reinstaurando a ordem.
A beleza proibida da donzela desperta em Evangelista a vontade de
possuí-la; a moça passa a objeto do desejo do rapaz, cujas ações visam à
satisfação da carência gerada pelo desejo. O sucesso da demanda
empreendida pelo apaixonado restabelece o equilíbrio quebrado pela
vontade de posse do objeto.
Logo, a libertação da donzela tanto significa a reparação de um
malefício (reclusão) como a eliminação de uma carência (desejo amoroso),
a vitória cabendo ao herói. Sendo esses elementos a espinha dorsal da
história, pode-se considerá-la como um conto maravilhoso.
Como em muitas narrativas populares, no folheto Romance do Pavão Misterioso,
o herói vem de um país estrangeiro e sua história transcorre também
numa região longínqua daquela do leitor ou ouvinte. O Evangelista do
cordel vem da Turquia e sua aventura tem a Grécia como palco.
A construção do espaço decorre de dados culturais e contribui para
conferir à personagem das histórias populares um caráter mágico. Vivendo
em paragens remotas ou simplesmente desconhecidas do apreciador da
história, ou ainda povoadas de perigos e ameaças, o herói reveste-se de
uma natureza próxima daquela das criaturas míticas, habitantes de um
espaço e de um tempo distantes.
Alguns heróis populares pertencem a camadas sociais elevadas ou
adquirem riqueza e poder no decorrer da história; com esses traços
diferenciam-se do cotidiano do homem comum que lhes presta admiração.
Assim, o Evangelista do Romance do Pavão Misterioso é um rico herdeiro de “um viúvo capitalista”.
Nesta obra encontramos nítidas influências das celébres “Mil e Uma Noites”.
Simbologia
Qualificado como misterioso, o pavão é uma figura de significados
mágicos. Sua presença na titulação não só registra sua participação na
aventura, mas adverte quanto aos sentidos míticos do que se narra.
O pavão insere-se numa complexa simbologia. Signo solar, do fogo, da
beleza, do poder de transmutação, pela vistosidade de sua plumagem, é
também conhecido, mitologicamente, como destruidor de serpentes (seres
da obscuridade). Símbolo da paz, da prosperidade, da fertilização, sua
morte tem o poder de trazer a chuva. Aparece como montaria em algumas
mitologias e na tradição cristã é sinal de imortalidade. Como
representação da dualidade psíquica do homem, o pavão conota as forças
positivas, por todos os conteúdos que lhe são atribuídos.
Rafael San