Os professores da UFPB votaram contra o início de uma greve nacional da categoria. Reunidos em assembleia geral na quinta e na sexta-feira (27 e 28 de maio), eles rejeitaram a proposta do Setor das Instituições Federais de Ensino (Ifes) do ANDES – Sindicato Nacional, que aprovou no último fim de semana a proposta de submeter às assembleias de base uma consulta de indicativo de greve nacional docente em todo o País.
No total, 407 professores participaram das assembleias na Paraíba, sendo 31 na de Areia, 45 na de Bananeiras (ambas realizadas na terça-feira) e 331 na de João Pessoa (realizada nesta quarta-feira, também com a presença dos professores do campus IV – Litoral Norte).
A posição contrária à deflagração de uma greve docente venceu com 260 votos, contra 108 favoráveis. Confira abaixo como ficou a votação por campus.
Fundo de greve
Em João Pessoa, os professores decidiram também aprovar a criação de um fundo de greve. No total, 34 presentes foram favoráveis à proposta, um se apresentou contra e cinco se abstiveram.
A próxima rodada de assembleias ficou marcada para os dias 10 (Areia e Bananeiras) e 11 de junho (João Pessoa).
Conselho de Representantes
Entre os informes, o professor Alexandre Náder, coordenador do Conselho de Representantes da ADUFPB, anunciou que a próxima reunião do CR será realizada no dia 3 de junho (terça-feira). “A convocação é para os conselheiros, mas todos os interessados podem assistir. O ponto de pauta central é a campanha de sindicalização a ser realizada em todos os centros da UFPB”, afirmou.
Participação dos estudantes
Em João Pessoa, a assembleia foi marcada por um acalorado debate, com a participação também dos estudantes. O auditório do curso de Fonoaudiologia ficou lotado. Professores e alunos denunciaram a precarização do ensino na universidade, salas de aula e laboratórios com problemas de infiltração, falta de equipamentos, prédios com estrutura comprometida, superlotação nas salas de aula.
Representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) deram informes sobre a mobilização dos alunos no CCHLA (Centro de Ciências Humanas e Letras) por conta dos problemas de infraestrutura. Eles reclamam, por exemplo, que a biblioteca setorial já foi terminada, mas ainda não inaugurada. Para discutir esses problemas, os estudantes do CCHLA vão realizar uma assembleia no dia 4 de junho.
Reunião do Setor das Ifes
O professor Romildo Fernandes, vice-presidente da ADUFPB, deu os informes sobre a reunião do Setor das Ifes do ANDES, realizada no último fim de semana (24 e 25 de maio). O evento contou com a participação de oito diretores do Sindicato Nacional e de 50 representantes de 36 seções sindicais.
Vale ressaltar que, de todas as entidades que participaram da reunião, a ADUFPB foi a que registrou maior número de presentes na última assembleia para definir os rumos do movimento. No total, 255 professores participaram das reuniões realizadas nos campi de Bananeiras em Areia nos dias 22 e 23 de maio.
O Setor das Ifes decidiu por intensificar a mobilização e indicou a deflagração de greve por tempo indeterminado para o mês de junho. Os docentes presentes na reunião aprovaram ainda a realização de nova rodada de assembleias gerais até o dia 6 de junho, incluindo na pauta “data para deflagração da greve”. Na UFPB, os docentes decidiram nesta quarta-feira rejeitar essa proposta.
A reunião em Brasília também aprovou a convocação de um novo encontro, também na Capital Federal, no dia 7 de junho, para deliberar sobre a “data para deflagração da greve”, com base nas manifestações das assembleias gerais.
Segundo o professor Romildo Fernandes, o primeiro ponto de discussão foi o resultado das rodadas de assembleias realizadas nos estados na última semana. “E constatou-se um grau de desigualdade no processo de mobilização das diversas entidades”, afirmou. Um dos problemas é a diferença nos calendários letivos das universidades. “Após a greve de 2012, o calendário apresenta diversas datas de início e de término de semestre”, afirma.
Um caso particular é o do Rio de Janeiro. Segundo Romildo Fernandes, lá o Governo decretou férias por dois meses durante o período da Copa do Mundo. “As aulas devem terminar próxima semana e só retornar em agosto”.
Outra situação é a da Universidade Federal de Pernambuco, que não realizou assembleia, porque, na data marcada, o Estado entrou em situação de alerta por causa da greve da Polícia Civil. Romildo Fernandes explica que esse processo desigual tem provocado insegurança sobre o movimento docente.
Sesu/MEC
O vice-presidente da ADUFPB revelou que, durante a reunião do Setor das Ifes, a presidente do ANDES, Marinalva Oliveira, recebeu um telefonema da Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação (Sesu/MEC) propondo marcar uma reunião de negociação, já que a do dia 21 havia sido cancelada pelo próprio Sesu.
Marinalva apresentou como sugestão os dias 2 ou 3 de junho, mas o representante da Sesu ficou de confirmar a data para reabertura da mesa.
A reunião que deveria ter acontecido no dia 21 – agendada aproximadamente um mês antes – foi cancelada pela Sesu devido a viagem do secretário Paulo Speller. Entretanto, no dia 22, o próprio Speller se reuniu com representantes do Proifes, sindicato sem representatividade que assinou acordo com o MEC durante a greve de 2012 sem a aprovação da maioria da categoria.
Depois, houve ainda uma reunião com a Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior), que reúne os reitores das universidades do País. “Ou seja, ele cancelou a nossa reunião, mas chamou essas outras duas entidades para conversar. Na avaliação do Setor das Ifes, parece claro que a tática é repetir o que foi feito anteriormente: congelada as negociações com o ANDES e colocar novas propostas em pauta”.
Avaliação da diretoria
O presidente da ADUFPB, Jaldes Reis de Meneses, apresentou os informes da reunião da Diretoria Executiva do Sindicato, realizada na última segunda-feira (26/5). Ele lembrou que, no Governo Dilma, aconteceu um aumento grande no número de professor, principalmente os da carreira EBTT (Ensino Básico, Técnico e Tecnológico) e há uma insatisfação crescente sobre as condições de trabalho.
“É falso o argumento de que o sistema está consolidado. O sistema vive um impasse profundo que vai se mostrar ainda mais nos próximos meses e nos próximos anos”, afirmou. De acordo com ele, esse quadro se junta a uma crise que começa a despontar em todo o ensino superior brasileiro e não somente nas universidades federais. Há um impasse no financiamento das universidades públicas, mas também nas instituições privadas.
Além disso, o plano de carreira dos professores federais, que foi resultado da greve de 2012, possui distorções profundas. “E é em função dessas distorções que o ANDES vem procurado negociar com o Sisu”, explica Jaldes Meneses.
O ANDES apresentou ao MEC três questões: a definição de degraus para a carreira, que hoje são aleatórios e produziram distorções; uma nova composição de salário, com piso e teto, e o debate sobre a autonomia universitária.
Segundo Jaldes, as assembleias vêm sendo muito proveitosas na discussão dessas questões. “As últimas rodadas de assembleias da ADUFPB têm sido as maiores do País. E os debates estão sendo sempre acalorados e têm que ser assim, porque o debate fortalece a nossa entidade”, declarou.
Redação: com Assessoria