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Uma em cada 650 crianças nasce com fissura labiopalatal. Levando essa estatística em consideração, é possível calcular que quase 6 mil paraibanos possuem a anomalia congênita, também conhecida como lábio leporino. A principal característica da anomalia é a abertura vertical no lábio superior. Em alguns casos, a fissura abrange também o palato, região que separa a cavidade oral e a nasal, o conhecido ‘céu da boca’. 

As consequências vão além da estética. A condição pode acarretar desnutrição causada pela dificuldade de alimentação, problemas na fala e problemas na dentição. Na Paraíba, o HU oferece o tratamento através do SUS, desde 1991. Desde então, foram beneficiados 1.900 pacientes. 

O médico Paulo Germano Furtado, coordenador do Serviço de Fissuras Labiopalatinas do HU em João Pessoa, disse que alguns pacientes atendidos ainda estão em acompanhamento. O tratamento é longo, começa a partir dos três meses de idade, e só termina por volta dos 16, podendo se estender até a idade adulta. “Aos três meses fazemos a primeira cirurgia no lábio, com um ano faz a cirurgia do palato. Aos 15 ou 16 anos se faz a correção do nariz, que geralmente fica torto, e vemos também se há necessidade de próteses dentárias, porque às vezes não nascem todos os dentes nesses pacientes”.

Para a dentista Rosa Helena Wanderley, especialista nesse tipo de tratamento, um dos maiores problemas das pessoas que vêm do interior é a falta de uma casa de apoio para acolhimento durante o tratamento, que pode iniciar aos três meses e se estender até os 15 anos. “Durante esse período, o paciente realiza algumas cirurgias e é importante ter apoio em João Pessoa, o que não existe, e do gestor de seu município”, esclareceu a dentista.

A ocorrência de lábio leporino não tem explicação, mas de acordo com Paulo Germano, um fator importante é a genética. Ele afirmou que em mais de 30% dos casos a criança já tem histórico familiar do problema. Os pilares do tratamento são a cirurgia, ortodontia e fonoaudiologia, mas o acompanhamento de assistentes sociais e psicólogos também é importante. “É uma coisa que mexe com a autoestima da pessoa e da família”. 

Paulo Germano informou que a maior parte dos pacientes recebidos no hospital é do interior, e muitos são de famílias pobres. A preocupação maior nesses casos é com a desnutrição dos recém-nascidos. “Em alguns casos a criança não consegue mamar porque, com a fenda, não há sucção. 

Quando a família não tem condições financeiras de comprar o leite adequado, o bebê começa a apresentar desnutrição, e pode vir a óbito”, explicou o médico.

Solidariedade

O Instituto de Fissura Labiopalatal da Paraíba promoveu, na manhã de ontem, no Ginásio de Atividades Integrativas da UFPB, em João Pessoa, uma festa em comemoração ao Dia das Crianças e ao Smile Day (Dia do Sorriso), que é comemorado hoje. A festa para os pacientes incluiu atrações musicais, distribuição de brindes e apresentação do Grupo Palhasus. A festa teve apoio da Fundação Solidariedade, do Sistema Correio.

Tratamento

Dois dos quatro filhos da dona de casa Luciana Galvão nasceram com lábio leporino. Ana Clara Alves, de 13 anos, e Samuel Lucas dos Santos, de cinco anos, estão passando por tratamento.

Segundo Luciana, a filha é vaidosa, gosta de se arrumar, e reclama da aparência que tem devido ao problema. “Ela disse que estão fazendo bullying com ela na escola, mas eu falo que não tem nada de errado com ela”, contou a mãe.

Para Paula Nascimento, de nove anos, insegurança com a aparência não existe. Sua mãe, Patrícia Nascimento, contou que a menina é desinibida, gosta de conversar com as pessoas e tirar fotos.

“Quando alguém fala que o nariz dela é torto ela diz ‘O seu também é’”, contou a mãe. Paula já passou por três cirurgias: aos cinco meses, três anos e seis anos. Ela ainda deverá fazer a cirurgia plástica no nariz quando atingir 18 anos.

Por Portal Correio
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