Primeira dama e Beatriz Ribeiro |
A Paraíba tem 23 mamógrafos, em 14 municípios, em funcionamento,
segundo a Secretaria de Estado da Saúde (SES). Entretanto, na prática,
alguns deles não estão fazendo exames, conforme apontou a fundadora da
ONG Amigos do Peito, a mastologista Joana Barros. O equipamento do
Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), que consta na lista da
SES como em funcionamento, está quebrado e não faz o exame há algum
tempo. Esta situação, assim como o acesso das mulheres ao rastreamento
do câncer de mama, será debatida, nesta quarta-feira (23), em reunião no
Ministério Público Federal (MPF), que será conduzida pelo procurador da
República José Guilherme Ferraz da Costa. Ontem, uma sessão especial da
Assembleia Legislativa também discutiu propostas de melhorias nas
políticas de prevenção.
Joana informou que o principal objetivo
da reunião de hoje é debater ações para promover melhorias no
atendimento das mulheres, facilitar o acesso aos exames de rastreamento
do câncer de mama e da qualidade das mamografias em todo o Estado,
principalmente no Interior, onde a situação é mais crítica. Segundo
Joana, é importante avaliar o funcionamento de todos os mamógrafos do
Estado.
“Não adianta o mamógrafo estar funcionando, mas fazendo exames
de péssima qualidade. A SES faz uma lista automática dos mamógrafos, mas
nem todos estão funcionando. O de Pombal, por exemplo, ficou um tempo
parado e voltou a funcionar essa semana. O do HULW não está funcionando
há muito tempo”, afirmou.
Para a mastologista, a distribuição
dos mamógrafos deve ser feita a partir de um estudo para identificar
onde estão as mulheres na faixa etária de risco. A indicação é colocar
um equipamento em cidades polo no Interior para atender a microrregião e
facilitar o acesso das mulheres oferecendo transporte. “Não adianta
colocar o equipamento numa cidade que não tenha muitas mulheres na faixa
etária alvo”.
1 aparelho para 240 mil
A
Portaria n° 1.101/GM de 2002 do Ministério da Saúde preconiza um número
mínimo de mamógrafos por habitantes: um equipamento para cada 240 mil
habitantes. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, a concentração
mínima de mamógrafos por área geográfica na Paraíba deve ser de 16
mamógrafos e o Estado conta atualmente na rede SUS com 23 equipamentos
em funcionamento, sete deles públicos.
O mamógrafo do HULW, que
consta na lista da SES dos equipamentos em funcionamento, está quebrado
há algum tempo e, segundo a assessoria do hospital, o serviço já foi
solicitado e deve começar ainda esta semana. Atualmente, os exames de
mamografia são feitos no Hospital Napoleão Laureano, São Vicente de
Paulo e em algumas clínicas particulares conveniadas ao SUS. De acordo
com a SES, no primeiro semestre deste ano foram feitos 12.148
mamografias de rastreamento em mulheres de 50 a 69 anos.
Doença mata 161 na PB
De
acordo com as estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), a
Paraíba tem uma taxa estimada de 32,41 casos de câncer de mama para cada
100 mil mulheres. Este ano, 161 mulheres perderam a batalha contra o
câncer de mama na Paraíba, destas 123 tinham idade superior a 50 anos.
No ano passado, a neoplasia matou 217 mulheres, 170 tinham mais de 50
anos. Em quatro anos, o número de óbitos em decorrência da doença
aumentou 26%, passando de 172 casos em 2008 para 217 no ano passado.
O
diagnóstico de câncer de mama não é uma sentença de morte e quanto mais
precoce for encontrado, maiores são as chances de cura. A mastologista
Joana Barros reforça a importância das consultas regulares com um
ginecologista e, para as mulheres acima dos 40 anos, com a mastologista.
Correio se engaja em grupo
Na tarde
de ontem, a Comissão dos Direitos da Mulher, da Assembleia Legislativa,
realizou uma audiência pública para debater propostas de melhorias nas
políticas de prevenção ao câncer de mama e na oferta de exames
preventivos. Segundo a deputada Daniella Ribeiro, presidente da
comissão, a intenção era formar um grupo de trabalho para acompanhar o
cumprimento de metas que ampliem o atendimento às mulheres paraibanas. O
Sistema Correio, através da Fundação Solidariedade, se integrou ao
grupo, com a missão de acompanhar as políticas públicas e cobrar
resultados.
Segundo Beatriz Ribeiro, presidente da Fundação e
diretora- executiva do Sistema Correio, a imprensa exerce um importante
papel, no sentido de divulgar iniciativas que conscientizem a mulher
sobre seus direitos ao atendimento de qualidade. Ao mesmo tempo, tem o
dever de exigir do poder público que esse atendimento produza resultados
satisfatórios. “Estamos dando voz às mães de família e donas de casa
que não têm acesso a atendimento particular. Exigindo que o poder
público lhes dê a oportunidade de ampliar suas expectativas de vida”,
afirmou. Beatriz disse ainda que o Sistema Correio fará do Outubro Rosa
uma avaliação anual sobre o que foi feito na Paraíba em termos de exames
preventivos e sobre a apuração dos casos.
Entre os setores
representados na audiência estavam os governos estadual e municipal, o
poder judiciário, algumas organizações não governamentais, o Ministério
Público Estadual(MPE) e o Ministério Público Federal(MPF). O procurador
José Guilherme Ferraz, representante do MPF, tinha em mãos um inquérito
civil público de 2011, que apura responsabilidades sobre possível
omissão do poder público no atendimento preventivo ao câncer de mama.
“Vamos cobrar melhor índice de exames, maior quantidade de mamógrafos em
funcionamento e o tratamento dos problemas detectados”, afirmou o
procurador, que acrescentou a possibilidade de o MPF acionar
judicialmente os gestores públicos caso se comprove omissão.
“É preciso seguir em frente”
A
consultora de beleza, Ivana Acioli, 45 anos, descobriu que tinha câncer
na mama há um ano, depois de insistir que tinha alguma coisa errada com
a sua saúde. Ivana, que já retirou um nódulo benigno do outro seio,
sentiu um novo nódulo no seio direito e mostrou ao ginecologista. Ela
tomou medicamentos e fez um ultrassom da mama, onde descobriu que a
inflamação era uma metástase.
Ivana se submeteu a uma
mastectomia do seio direito e um prolongamento da axila direita, aliada à
quimioterapia. “Ainda estou sem a prótese mamária porque a primeira deu
rejeição. Estou esperando um tempo para fazer novamente o implante. Mas
o que importa é que me curei”, disse.
Ivana contou que abraçou
a causa do combate ao câncer de mama. Semana passada, ela participou da
inauguração da sala de convívio na clínica particular onde fez todo o
tratamento e reencontrou amigas do tratamento. Ontem, ela promoveu uma
sessão de beleza, o Dia Rosa, na clínica de fisioterapia que ela também
fez o tratamento. “O tratamento não é fácil. Mas é preciso seguir em
frente, não baixar a cabeça nunca, porque a vida é bela. A gente pode
ficar com a autoestima baixa, mas nada que uma boa maquiagem não dê
conta. Apoiar umas às outras também é importante, um abraço faz a
diferença”, afirmou.
Por Portal Correio