A OMS (Organização Mundial de
Saúde) declarou emergência de saúde pública internacional pelos casos de
microcefalia em áreas com surto do zika vírus, mas o órgão também
reconhece que há "indícios consistentes" do aumento de casos da síndrome
de Guillain-Barré em regiões afetadas pelo vírus.
A síndrome de Guillain-Barré é uma doença do sistema nervoso de caráter
autoimune, ou seja, ocorre quando as defesas do organismo são mais
intensas do que o necessário e passam a atacar partes do corpo. Pode
afetar pessoas de qualquer idade, especialmente adultos mais velhos, e o
risco de morte associado à doença é inferior a 10%.
Trata-se de uma reação rara a agentes infecciosos como vírus (que pode
ser o zika) e bactérias. Os principais sintomas são fraqueza muscular e
paralisia dos músculos. Pode apresentar graus diferentes de
agressividade - de fraqueza muscular leve à paralisia total dos membros.
A doença afeta os nervos periféricos,
que conectam o cérebro à medula espinhal, responsáveis por enviar
comandos de movimento para o resto do corpo - daí os sintomas
musculares.
Manifesta-se quando o sistema imunológico começa a produzir anticorpos
contra a bainha de mielina, revestimento isolante que garante o
funcionamento dos nervos. Danos a essa estrutura comprometem a
capacidade de movimentação e a sensibilidade diante do calor, dor,
texturas e outras sensações.
"Esse problema começa com um formigamento, uma fraqueza das pernas que
vai subindo. Pode até ser grave, pode inclusive dar paralisia dos
músculos respiratórios. Por isso, é importante procurar atendimento",
afirmou o diretor de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério
da Saúde, Cláudio Maierovitch, em vídeo divulgado pela pasta.
Guillain-Barré e zika
A OMS reconhece a coincidência "espaço-temporal" entre surtos de zika a
incidência da síndrome, mas diante da escassez de dados ainda não
estabelece um vínculo direto entre as doenças. A recomendação por
enquanto aos países afetados pelo zika é o aumento da vigilância a essa e
outras síndromes neurológicas, como encefalite, meningite e síndrome de
Fisher.
A relação entre a síndrome a a infecção por zika foi detectada pela
primeira vez na Polinésia Francesa, durante o surto do vírus entre 2013 e
2014. Naquela ocasião, 74 pacientes com zika apresentaram também
sintomas neurológicos ou autoimunes, e 42 (56,7% do total) foram
classificados como Guillain-Barré.
No Brasil, a relação entre Guillain-Barré e zika foi confirmada no ano
passado após investigações em Pernambuco, que como outros Estados do
Nordeste apresentou aumento atípico de casos da síndrome.
A Guillain-Barré não é uma doença de notificação compulsória no Brasil,
então não há dados nacionais sobre a ocorrência da síndrome. O governo
monitora a situação pelos registros de internações e atendimentos
ambulatoriais relacionados à doença, que revelaram aumento nos casos no
ano passado em relação a 2015.
Houve, por exemplo, 29,8% mais internações (1.868 em 2015 ante 1.439 em
2014) e 8,1% mais atendimentos ambulatoriais (69.703 ante 64.422). A
alta foi puxada pelos Estados de Alagoas, Rio Grande do Norte, Piauí,
Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro. No entanto, segundo o
ministério, não é possível estabelecer se esses casos foram causados
pela infecção por zika, e a ocorrência de Guillain-Barré relacionada ao
vírus continua sob investigação.
Estados vem adotando diferentes estratégias para investigar a síndrome -
o Rio de Janeiro, por exemplo, anunciou que tornará obrigatória a
notificação de casos, após registrar 15 casos em janeiro, número três
vezes acima da média histórica.
Extensão e tratamento
A OMS estima que a incidência anual média de Guillain-Barré no mundo
seja de 0,4 a 4 casos por 100 mil habitantes. A doença não tem uma cura
específica, e os tratamentos são voltados a reduzir a gravidade dos
sintomas.
Procedimentos usados na fase mais aguda da doença são a imunoterapia
com troca de plasma - para bloquear os anticorpos que atacam as células
nervosas - e a admisitração de imunoglobulina, um anticorpo.
A maior parte das pessoas sobrevive e se recupera por completo. Esse
processo, contudo, pode levar semanas ou meses, e a síndrome pode
provocar deficiências que demandam reabilitação.
Do Último Segundo