Todos os anos durante o mês de dezembro, as pessoas se reúnem em suas
casas para comemorar o Natal em família. Enquanto isto, quem mora nas
ruas passa a festa ao relento. Em Campina Grande, de acordo com
levantamento realizado este ano pela Secretaria Municipal de Assistência
Social (Semas), existem 50 pessoas vivendo nas ruas e praças,
principalmente no centro da cidade e que ficam longe das famílias e
amigos na festa natalina.
José Aurir, 57 anos, e Tânia França, 51 anos, compartilham dessa
realidade há mais de 15 anos e conhecem bem as dificuldades de quem vive
na rua. “Vou passar o Natal fazendo o que eu faço
sempre, trabalhando”,
diz José Aurir, que sobrevive catando papelão.
A realidade de quem passa o Natal nas ruas é bastante sofrida, quase
sem comida e praticamente nenhuma atenção. Essas pessoas não têm muitas
opções para festejar essa data. Fazem o que podem, como bem expressou
dona Tânia França. “No dia 25 eu vou pra Catedral rezar, que é aqui
perto, depois vou dormir e assim é o Natal pra quem não tem nada”,
frisou. O casal procura abrigo na calçada da Secretaria de Finanças e
Administração.
O morador de rua Edinaldo Henrique, 40 anos, que aos 7 anos foi
abandonado pela mãe e desde os 18 anos mora nas ruas de Campina Grande,
gostaria de reencontrar a mãe. “Gostaria muito de passar o Natal com a
minha mãe, ela me abandonou e hoje mora no Rio de Janeiro”. Edinaldo
hoje mora com um casal de amigos que conheceu na rua, Roseane Silva, 23
anos, e Alexandre Roseno, 27 anos. O casal tem histórias distintas, ela
foi morar na rua depois da morte dos familiares e ele depois de muitos
desentendimentos com a família. Há 2 anos eles vivem embaixo do viaduto e
comemoram o Natal lá mesmo, apenas na companhia do amigo Edinaldo. "Eu
queria muito ter uma casa pra morar, ter família pra passar o Natal
comigo, aqui é muito ruim, a gente quase não tem o que comer”, afirmou
Roseane Silva.
Apesar da pobreza e das condições em que vivem, eles ainda são
capazes de pensar no próximo, como fez Roseane Silva ao ser perguntada
sobre o que ela esperava do Natal: “Só quero que todo
mundo tenha saúde e
paz e que nunca precisem passar por isso aqui”, disse.
A diretora da rede especializada do Semas, Emília Pinheiro, falou da
dificuldade que tem para poder tirar as pessoas das ruas, pois alguns
deles recusam a oferta para ficar no albergue. “Muitas delas recusam,
alegando receber dinheiro, bebida ou tem animais domésticos. E lá no
albergue nós temos uma rotina e eles devem seguir as normas”, afirmou.
Um empecilho é a quantidade de vagas nos abrigos frente à quantidade
de moradores de ruas. Atualmente, Campina Grande conta com uma
capacidade de abrigar no máximo 23 moradores de ruas. “Lá abrigamos as
pessoas que estão vivendo nas ruas e eles recebem as três refeições e
lanche. Eles podem sair durante o dia, mas devem retornar antes das
21h”, afirmou. Nas ruas existem 50 moradores.
A coordenadora do programa Ruanda, desenvolvido pela Semas, Solânia
Chagas, diz que tenta dar uma orientação social a crianças e
adolescentes que estão nas ruas. “Não temos muitos adolescentes vivendo
nas vias públicas, porém, é possível encontrá-los trabalhando para os
pais. Trabalhamos com oficinas e assistência social para tentar dar um
rumo a essas pessoas”, afirmou a coordenadora do
programa.
Por Jean Ganso, Com Jornal da Paraiba