O peso
do dinheiro na relação de um casal é grande. Como falar sobre o tema
costuma causar desentendimentos e estresse, muitos evitam esse tipo de
papo. E, quando ele surge, é por causa de gastos excessivos,
endividamento e outros problemas nas contas familiares. Segundo os
especialistas em finanças, esse é o grande erro.
“Na maioria das vezes, orçamento e planejamento não fazem parte das
conversas corriqueiras dos casais”, afirma Gustavo Cerbasi, autor do
best-seller “Casais Inteligentes Enriquecem Juntos” (Editora Gente).
Segundo pesquisa divulgada em julho de 2012 e realizada pela psicóloga e
professora da Universidade de Michigan (EUA), Terri Orbuch, o dinheiro é
o principal motivador de conflitos entre os casais. A pesquisadora
acompanhou 373 casais que estavam no primeiro ano de casamento e tinham
entre 25 e 37 anos, e coletou periodicamente informações ao longo de 25
anos.
Nesse estudo, 49% das pessoas divorciadas disseram que brigaram muito
com seus parceiros por causa de perfis econômicos diferentes e de
mentiras sobre os gastos. Outro motivo apontado era a tendência que os
que ganham mais tinham de controlar o outro. Como consequência, seis em
cada dez desses divorciados que começaram uma nova relação preferiram
não juntar as finanças.
Na opinião do economista e consultor financeiro Marcos Silvestre,
autor do livro “Investimentos à Prova de Crise” (Editora Lua de Papel), o
dinheiro não separa casal nenhum, mas acentua outras divergências. “Por
mais que se entendam, as pessoas têm valores, histórico familiar e
entendimentos distintos sobre os significados do dinheiro. Equalizar
essa dimensão da vida do casal requer tempo e energia”, diz.
A consultora financeira Elaine Toledo, autora de “Saiba Mais
para Gastar Menos” (Editora Alaúde), observa que, sem a figura do
provedor, do chefe de família que entra com o dinheiro, os casais jovens
têm optado pelo individualismo financeiro, com contas separadas e
divisão das despesas comuns.
“Dessa maneira, eles não se preparam para
compartilhar a vida a dois principalmente quando surgem problemas, como a
perda do emprego”, diz Elaine.
“Se cada um está de um lado, o que terá de arcar com as despesas até o
outro se recolocar profissionalmente se sentirá explorado, esquecendo
que uma relação não é só um negócio, mas que envolve sentimentos,
carinho e respeito”. Os especialistas são unânimes em afirmar que o
diálogo é a chave para evitar desentendimentos. Segundo a psicóloga
Cleide M. Bartholi Guimarães, diante da diversidade de relações há
também de se levar em consideração as várias formas de manejar o
dinheiro a dois. “Não tem certo nem errado”, diz ela.
“O importante é cuidar da qualidade do relacionamento,
priorizando a colaboração e a compreensão mútuas, facilitando a tomada
de decisão
conjunta combinada com afeto, respeito e consciência do significado do
dinheiro para cada um”. Contas conjuntas ou individuais? “Em um
relacionamento não se divide, se soma”, diz Cerbasi, defensor da conta
conjunta. “Esse é um recurso estratégico, pois ao saber que todos estão
contribuindo, fica mais fácil alcançar projetos mais rapidamente”,
afirma.
O especialista aconselha separar 10% da renda para gastos
pessoais a fim de que ambos possam usufruir do mesmo padrão de vida.
Seria diferente se cada um mantivesse suas contas individuais e,
enquanto um pode gastar mais porque ganha mais, o outro teria muitas
restrições por ganhar menos. “Por isso é importante sentar para
conversar sobre os gastos da família, do casal, do marido e da mulher separadamente, para que nenhum lado seja prejudicado”.
Se os cônjuges sentem dificuldade em manter uma conta conjunta, a
dica dos especialistas é optar pelas individuais desde que ambos façam
uma conta só do casal, na qual cada um deposita por mês a quantidade
acertada para pagar as contas familiares e reservar dinheiro para
projetos comuns a médio e longo prazos.
Quem paga mais?
Para Marcos Silvestre, a decisão deve ser de comum acordo. “Um
critério de partilha equilibrado funciona da seguinte forma: quem ganha
um salário maior, depositará proporcionalmente uma quantia maior na
conta conjunta, e quem tem um rendimento menor, fará um depósito
proporcionalmente menor”, diz ele.
O importante é que, somando a quantia dos dois, os depósitos atinjam
100% do mínimo necessário para bancar os pagamentos mensais da família.
Silvestre dá um exemplo: se o salário líquido da mulher for de R$ 6 mil,
o do marido, R$ 4 mil, e as despesas do casal chegam a R$ 8 mil; no
início de cada mês ela depositará R$ 4.800,00 (60% de R$ 8 mil) na conta
conjunta, e ele fará uma transferência de outros R$ 3.200,00 (40% de R$
8 mil). Essa regra prosseguirá até que alguma das rendas mude ou se
altere a soma dos gastos mensais. “Distribuir o ônus financeiro do casal
desta forma é puro bom senso financeiro e costuma funcionar muito por
ser prático. As sobras e despesas estritamente individuais de cada
parceiro devem ser administradas na conta pessoal de cada um”, explica.
Por Jean Ganso, Com Focando a Noticia