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Ver pornografia na internet é praticamente um comportamento comum a maioria dos homens. São poucos aqueles que não apreciam a excitação rápida proporcionada pelo universo digital. Apesar de terem a mesma facilidade de acesso aos conteúdos eróticos, as mulheres ainda não desenvolveram uma relação similar com a pornografia ou não falam muito sobre isso.
O público feminino que se interessa pelo pornô costuma ser bem menor do que o masculino. No Brasil, um levantamento de 2009 feito pelo Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião e Pesquisa) constatou que 28% dos usuários de sites adultos eram mulheres.
Nos Estados Unidos e na Europa, estima-se que a audiência feminina também esteja perto dos 30%. Mas, para o cientista Ogi Ogas, do Center for Individual Opportunity, em Boston, nos Estados Unidos, que pesquisa o comportamento sexual por meio da análise dos dados e informações da internet, esse índice é exagerado. “O número é, provavelmente, próximo a uma faixa de 10% a 20%, quando falamos sobre pornografia visual”, diz, com base em seus estudos.
Afirmar, simplesmente, que as mulheres não gostam de pornografia significa reforçar um mito simplista, na opinião de Ogas, autor de dois livros acerca do desejo sexual (“A Billion Wicked Thoughts”, ou “Um bilhão de pensamentos maldosos”, em tradução literal, escrito com Sai Gaddam, e “Unlocking the Sexy in Surrender”, algo como “liberação da sensualidade na entrega”, em tradução livre, escrito com Marianne Brandon e Sai Gaddam. Nenhum dos dois foi lançado em português.) “Vemos que existem duas categorias bem distintas relativas aos interesses sexuais femininos: mulheres que gostam de pornô, que são a minoria, e aquelas que não estão interessadas”, resume.
Para Léa Santana, especialista em gênero e políticas públicas pelo NEIM (Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher), da UFBA (Universidade Federal da Bahia), também pesquisadora sobre pornografia feminista, acreditar que as mulheres não curtem pornô equipara-se ao estereótipo segundo o qual elas não dariam tanta importância ao sexo. “Mulheres assistem pornô, sim, cada vez com mais interesse e curiosidade”, afirma.

Conteúdo machista

O médico ginecologista Jorge José Serapião, professor de sexualidade humana na Faculdade de Medicina da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), observa em sua prática como terapeuta sexual que as mulheres preferem o erotismo à pornografia. “De modo geral, elas não gostam de cenas em que identificam uma submissão da mulher. Elas apreciam mais quando a pornografia é só uma manifestação de erotismo”, explica.
A ideia de que, do ponto de vista sexual, as mulheres valorizam menos a imagem do que os homens não condiz com a realidade biológica, na opinião do médico. Portanto, não seria suficiente para justificar a falta de interesse de parte do público feminino pela pornografia. “Em relação aos estímulos, homens e mulheres são semelhantes. Culturalmente, algumas diferenças se impõem”, pondera.
Se o pornô ainda não seduz a audiência feminina na mesma proporção que a masculina, o problema, para Léa Santana, está na produção desses conteúdos, que considera machistas. A pesquisadora ressalta que a maioria dos filmes não respeita o desejo das mulheres. “Dentro da indústria do cinema pornográfico, a maioria dos produtores, câmeras, diretores e distribuidores são homens. Os filmes refletem esse perfil, são pensados por homens para agradar homens”, diz.

Pornô feminista

A falta de identificação com os conteúdos disponíveis na internet é justamente o que faz com que Carla de Jesus, 36 anos, agente comunitária de saúde no Rio de Janeiro (RJ), não sinta vontade de assistir a vídeos eróticos. “Alguns são tão bizarros que tenho vontade de rir. Acho todos tão forçados e superficiais que não me atraem”, revela.
Como alternativa à pornografia voltada ao público masculino, já existe o chamado pornô feminista, em que a mulher não é vista apenas como objeto de prazer. Entretanto, esse tipo de produção ainda não ganhou muita popularidade.
A partir dos dados que coletou das buscas de conteúdo sexual na internet e visitas a sites adultos, o cientista Ogi Ogas avalia que o mercado de erotismo feminista não é muito promissor. “Mulheres que gostam de pornô tendem a gostar do mesmo tipo de pornô feito para homens. Para as mulheres que não gostam, provavelmente, não há muito o que possa ser feito para que isso seja atraente para elas”, acredita.
A preferência da artista visual Maria Antonia Mion, 26 anos, de Curitiba (PR), que vê pornografia com regularidade, corrobora com a visão do pesquisador norte-americano. Apesar de já ter assistido ao pornô feminista, ela prefere os filmes considerados machistas.
O fato de o pornô feito para mulher trazer mais história, por exemplo, não é um diferencial que agrada à artista. “Quando procuro um pornô na internet, não estou muito a fim de ver história, às vezes quero uma coisa ‘fast food’, mesmo”, fala.
Para Maria Mion, a pornografia estimula sua vida sexual. Ela só sente falta de filmes mais bem produzidos, com maior qualidade técnica.
O professor da UFRJ também acredita que os conteúdos eróticos podem ser benéficos para aumentar a libido feminina, porém, diz que a prescrição desse tipo de material depende de cada paciente. “O uso de material erótico é útil desde que não agrida o sistema de crenças e valores da pessoa, que sempre deve ser considerado em qualquer abordagem médica ou psicológica”, fala Jorge Serapião.
Fonte: Uol 
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