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Estudante foi a primeira aluna da Apae a ingressar no ensino superior onde irá cursar Educação Física. Incentivo aos estudos  começou em casa bem desde cedo.

Destacado pelo batom cor de rosa, o sorriso da estudante Talita Alves Bezerra, 23 anos, que tem Síndrome de Down, demonstra a alegria que ela sente por ter passado no vestibular de Educação Física das Faculdades Integradas de Patos (FIP). A estudante foi a primeira aluna da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Campina Grande a ingressar no ensino superior. O sentimento de realização e orgulho é partilhado pela mãe dela, a educadora Iraquitania Bezerra, 53 anos, que sempre esteve ao lado da filha, apoiando e incentivando suas decisões. Prova disso é que as duas agora vão morar 178 quilômetros mais distantes de casa, pois se mudarão de Campina Grande para a cidade de Patos, no Sertão do estado, em busca de realizar o sonho da filha de ingressar na faculdade.

“Eu estava no colégio quando foram me chamar na sala de aula e me mostraram que eu tinha sido aprovada. Eu comecei a chorar na mesma hora e fui correndo ligar para minha mãe contando a novidade”, relatou Talita. Agora já matriculada, ela espera com ansiedade o mês de fevereiro, quando as aulas terão início. “Quando fui fazer minha matrícula eles me disseram que lá tem dança e academia e eu vou poder fazer tudo isso. Fiquei muito feliz quando soube”, comentou.

Ao lembrar o período dedicado aos estudos, a mãe conta que Talita sempre foi muito confiante e decidida. Ao realizar o exame, ela já saiu com a certeza da aprovação. “Assim que ela fez a prova já sabia que ia passar. Eu pedi para ela se acalmar e esperar um pouco, mas ela dizia ter certeza do resultado. E realmente tinha. Ela já é uma fera”, destacou.

Desde criança recebendo o incentivo da família para estudar, a dificuldade enfrentada pela jovem foi decidir se queria prestar vestibular para Matemática ou Educação Física. Mas a preferência pelos exercícios físicos foi decisiva para a escolha de Talita. “Eu sempre gostei de dançar, de ir para a academia e até participei de festivais, por isso escolhi esse curso. Já me considero uma professora”, comentou.

Estimulada desde pequena

O estímulo dado para os estudos de Talita foi uma das provas do amor materno, que não mediu esforços para fazer com que as dificuldades fossem superadas, mesmo com todas as limitações. “Quando ela entrou no ensino médio eu já comecei a perguntar qual o curso que ela queria fazer e fui incentivando a decisão. Sempre me preocupei em estimular minha filha a estudar.

Quando ela nasceu e foi dado o diagnóstico de que tinha síndrome de Down eu já comecei a trabalhar com ela fazendo os tratamentos devidos e fiz questão de matriculá­la na escola regular”, disse Iraquitania. 

Conciliando os estudos com as atividades físicas e o tratamento recebido através da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), a jovem mostrou desde cedo interesse pela área. O gosto pela dança possibilitou que Talita viajasse pelo país participando de festivais que lhe renderam medalhas e menções honrosas. Dessa aptidão, surgiu a escolha profissional de Talita, que já começa a ser traçada.

Até que chegue o dia 2 de fevereiro, quando a rotina de mãe e filha será modificada pela mudança de cidade, Talita disse que vai aproveitar esse intervalo para descansar e fazer palavras cruzadas, exercício que adora. “Quando as aulas começarem eu já sei que vou ler, escrever e estudar muito”, comentou. Cheia de expectativas, ela falou também que quer aprender a dirigir em breve para se tornar mais independente.

O papel da Apae
Apae incentiva estudo dos alunos Para assistir pessoas portadoras de necessidades especiais, a Associação de Pais e Amigos de Campina Grande (Apae), que funciona no bairro do Catolé, presta serviços médicos, psicológicos e pedagógicos a cerca de 420 pessoas. Dessas, aproximadamente 102 têm síndrome de Down. De acordo com a vice­diretora, Vineide França, há uma preocupação em estimular os usuários a se dedicarem aos estudos, mas o incentivo maior deve partir da família.

Na instituição, a aprovação de Talita não é vista como mérito da Apae porque, segundo a vice­diretora, ele também é resultado do apoio dado pela mãe, que nunca mediu esforços para que a filha obtivesse êxito em suas escolhas. “Nós trabalhamos sim com a questão do incentivo, orientando os pais a colocarem seus filhos na escola regular, mas o sucesso ou não das pessoas portadoras de deficiência depende muito mais das famílias”, enfatizou.

Os portadores da Síndrome de Down atendidos pela Apae tem a sua disposição serviços que variam de acordo com o grau de dificuldade apresentado. Segundo Vineide, dos profissionais responsáveis pela limpeza até os professores da associação, todos os funcionários estão preocupados em oferecer aos usuários o melhor de si para que o tratamento prestado seja capaz de reabilitá­los e de atender às necessidades específicas de cada um.

Os serviços pedagógicos disponibilizados pela Apae funcionam de segunda a sexta­feira, nos turnos manhã e tarde. Além das aulas convencionais, a instituição também dispõe de oficinas de culinária, artesanato, laboratório de informática e brinquedoteca. Na clínica, há assistência social, fonoaudiologia, fisioterapia motora e respiratória, visando melhorar a  qualidade de vida dos usuários.

Paraíba tem mais de 11 mil alunos na educação especializada


Os alunos portadores de necessidades especiais têm na escola a oportunidade de conviver em um ambiente que propicia o respeito à diversidade. Adotando a política de inclusão social, na Rede Estadual de Ensino, da Educação Infantil ao Ensino Médio, estão matriculadas 11.701 pessoas com deficiência, de um total de 694.158 estudantes, de acordo com os dados da Secretaria de Estado da Educação. Em Campina Grande, os números da Secretaria Municipal de Educação apontam que dos 29.700 matriculados, 423 possuem algum tipo de deficiência.

Já no ensino superior da cidade, não há registro de pessoas portadoras da síndrome matriculadas na rede pública, nem na Universidade Estatual da Paraíba (UEPB), nem na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Em uma das principais faculdades privadas, a Facisa, também não existem alunos com esse perfil.

Na avaliação do pró­reitor de graduação da UEPB, Eli Brandão, não há um fator específico que determine essa realidade. Para ele, as universidades devem oferecer as condições necessárias para garantir a permanência de todos os alunos que por ventura ingressem no ensino superior.

“O fator principal que determina a entrada no ensino superior é o mérito pessoal, mesmo com debilidades e fragilidades. As pessoas com deficiência, tendo a competência de fazer a prova e responder às questões, têm sim a possibilidade de ingressar no ambiente acadêmico como qualquer uma outra”, disse.

Escolas adaptadas

O quantitativo das pessoas com síndrome de Down está incluso no número de portadores de deficiência intelectual, que somam 127 alunos na rede municipal de Campina Grande. Segundo a técnica da educação especial da cidade, Iara Gomes, as pessoas com deficiência, seja ela qual for, têm que frequentar as escolas e o espaço físico deve estar preparado para atender às necessidades delas. Das 118 escolas da rede municipal, 71 estão adaptadas para receber esses alunos e 47 possuem recursos multifuncionais como cadeira de rodas, bengalas e lupas, por exemplo.

Da mesma forma, os professores devem ser capacitados para sabe lidar com as limitações que eles apresentam e para isso a secretaria capacitou 2.500 educadores em Campina Grande e outros 50 municípios da área de abrangência. “Qualificar os professores é de fundamental importância para manter uma boa relação entre o aluno e o educador. Eles são os mediadores da teoria e da prática inclusiva, que garante o acesso e a permanência dos alunos portadores de necessidades especiais”, comentou.

A interação entre a família, a escola e os alunos da educação especial é considerada pela técnica como uma ferramenta que estimula o desenvolvimento cognitivo das pessoas com deficiência, que têm um potencial a ser trabalhado. “A cultura de achar que as pessoas com deficiências não aprendem já mudou. Hoje nós sabemos que elas podem sim estudar como qualquer uma outra. Para isso a secretaria trabalha o respeito às diferenças e o atendimento às necessidades, entendendo a pessoa com deficiência como pessoa”, concluiu.
cOM rELOYNA ALVES
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