A Pastoral Carcerária de todo
Brasil vem acompanhando por longos anos a realidade prisional. É visível, para
quem quer enxergar, que a situação só tem se tornado mais grave. Não se trata
de ser profeta da desgraça, pois a desgraça já se estabeleceu por muito tempo. Enquanto
as pessoas presas são acusadas de não cumprirem a Lei e por isso são condenadas,
o nosso país também é descumpridor de leis, sem punição. O estado brasileiro
fechou os olhos para a Segurança Pública e o Sistema Penitenciário Nacional. Quem
trabalha no sistema, digo, na cúpula, defende o estado e justifica a situação. A
conversa é sempre a mesma: “existem situações piores que a nossa”. Os que estão no dia a dia e querem fazer um
trabalho sério, demonstram muitas insatisfações pela forma como também são tratados
pelo estado.
Tudo o que atrapalha e não deveria
acontecer dentro do sistema, acontece e o torna mais vulnerável e desumano: violência,
mortes, crimes, drogas, armas, celular, corrupção, tortura e tantos outros
males. Quem conhece o sistema, não tem duvida que ele é de fato a escola do
crime e de uma economia paralela.
Quanto mais pessoas presas,
melhor para os cofres do estado e mais insegura estará a sociedade. Quem não conhece,
pensa o contrário.
Outra grave situação do sistema penitenciário
é que ele existe para a punição dos pobres e negros. A igualdade social só
existe na nossa Constituição Cidadã, nas letras. Quando o ministro da Justiça
diz que a prisão é um inferno, não traz nenhuma novidade. A Pastoral Carcerária
vive não só dizendo, mas convivendo e constatando que esse inferno existe. A grande
diferença é esta: é a palavra do Ministro. Talvez jamais se esperasse dele esta
manifestação. É o poder do estado brasileiro mostrando a sua incompetência ou
seu desinteresse pela situação. O que foi feito nos últimos 20 anos, só para
colocar duas décadas, para melhorar a situação do sistema prisional no seu
todo?
Quando o Ministro da Justiça diz
que preferia morrer a ser preso, é verdade! A prisão é para os pobres que lá estão
morrendo de muitos modos. A prisão extermina o ser humano, é uma pena de morte
que se arrasta pelo resto da vida, que quase sempre é muito curta. Ela contém
tudo o que Deus não deseja para o ser humano. Para cada pessoa presa há uma família
presa com ela. Devemos multiplicar os mais de 500 mil pessoas por mais 5 e
teremos uma multidão que é penalizada, castiga, condenada, estigmatizada pela
sociedade e pela estrutura prisional.
Parece que não se percebe ou não se
deseja tomar consciência da gravidade da situação.
A condenação dos envolvidos no mensalão
culpados ou não, serviu para levantar a discussão sobre o sistema. Onde os
mesmos vão cumprir suas penas? Se realmente chegarem a isso, não será jamais na
mesma condição dos pobres. O jeito brasileiro funciona muito bem e ninguém tem
duvida sobre isso.
Costumo dizer que MALDITA É A
PESSOA POBRE QUE VAI PARA A CADEIA. Ela é condenada pela policia logo no inquérito,
pelo advogado de porta de delegacia, pela sociedade, às vezes pela família,
pela justiça, pelo sistema penitenciário, enfim, todos estão contra ele. A sociedade
toda condena o agressor e a vitima. A imensa maioria de presos provisórios no
Brasil é uma condenação injusta por parte do estado que não lhes dá condições de
ser tratado conforme a Lei.
Do ponto de vista social, ir a
uma prisão é realmente aceitar as condições de entrar no inferno. Do ponto de
vista da fé é se encontrar com Jesus no inferno. Ele desceu à mansão dos mortos
para ressuscitar.
Para que o Brasil possa crescer e
se desenvolver tem a obrigação legal, social e moral de rever o tratamento que
está dispensando às pessoas presas e seus familiares.
Pebosco
16 de nov 2012