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CAMPINA GRANDE (PB) - Parte da cobertura do antigo ‘Cassino Eldorado’, localizado na Rua Manoel Pereira Araújo, a tradicional “Feira de Galinha”, centro de Campina Grande, desabou no início da tarde desta quinta-feira (03) e deixou pelo menos duas pessoas feridas. As vitimas seriam moradoras de rua que se abrigavam no local.
A estrutura estava abandonada há anos tempo e segundo o Corpo de Bombeiros era classificada como área de risco. Viaturas do SAMU e do corpo de Bombeiros foram acionadas para resgatar as vítimas e evacuar a área.
De acordo com o tenente Eurípedes, do Corpo de Bombeiros, os feridos estavam na parte superior do prédio e caíram quando o teto desabou. Eles tiveram ferimentos na cabeça. O perímetro foi isolado para evitar novos acidentes.
“As pessoas moradoras de rua vão à busca de qualquer abrigo, mas infelizmente não se atentam para a segurança”, disse.
O cabaré campinense foi construído como um símbolo dos “anos dourados”, vivenciados pela cidade quando o algodão era sinônimo de ouro. Para ser mais preciso, “ouro branco”, tal como se dizia na época.
No primeiro de julho de 1937, quando a cidade já era conhecida como “Liverpool Brasileira”, a edificação, em estilo art déco, já estava pronta para abrigar o “Eldorado”. O arquiteto Isaac Soares, responsável por essa histórica casa noturna, caprichou nos detalhes. Segundo Antônio Pereira de Moraes, no seu livro “Vi, Ouvi e Senti”, o Cassino Eldorado foi “... construído, especialmente com apartamentos para mulheres e dependências para jogos e diversões. Era dotado de um possante gerador, pois a luz pública deficiente apagava cedo. A sala do show-room tinha espaço para 36 dançarinos e exibição de artistas. Aos lados, 40 mesas com quatro assentos. Nas salas de jogos havia roleta 36, mesa de ronda (lasquinê), mesa bacará, mesa campista, mesa de Esplandim e mesas de poker”.
Estava pronto, enfim, o paraíso dos senhores do algodão, dos políticos e boêmios que formavam a socialite campinense. Lá, eles passariam noites memoráveis. O fastígio do poder econômico gerado pelo ciclo do algodão permitia a vinda de atrações internacionais e “camélias” do Recife e outros Estados vizinhos.
Só para se ter uma idéia, a inauguração do “Cassino Eldorado” foi feita com a participação dos artistas russos “Trotsky and Mary”, e o apresentador foi o próprio Trotsky, em virtude do “cabaretier” contratado, Catalano (ator do cinema nacional), ter chegado oito dias após a inauguração.
Pelo seu palco passaram artistas famosos como: Teda Diamante, Nenen, Sereia Negra (atriz, dançarina do cinema nacional), o casal mexicano Tapia Rubo, que fez sucesso no cinema de Hollywood, Paraguaíta e Clarita Diaz, cantora de tango da Argentina.
Antônio Pereira de Moraes conta ainda que “... foram cabaretiers (show-man) de 1937 a 1941, Catalano e Gaúcho. A orquestra era composta de seis músicos, alguns contratados fora. No início o violonista Abílio, saxofonista Raul Dinoá, pianista Zé Bochechinha, Jaime Seixas pianista, Jackson do Pandeiro, Manu saxofonista, etc".
Sem dúvida a história do “Eldorado” é página importante da história de Campina Grade. Hoje, seu prédio deteriorado denuncia a displicência do Poder Público municpal com o patrimônio histórico da cidade.
Uma réplica em madeira do Eldorado é anualmente montada no Parque do Povo durante o Maior São João do Mundo e reluz, em contraste com o desastre vivo da feira central. Este ano, por exemplo, a réplica foi cedida pela prefeitura para abrigar o luxuoso Bar do Cuscuz, com investimentos em dinheiro público e privado que seriam suficientes para reformar o original e evitar o problema hoje acontecido.

Por Notícia PB
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