Camile era uma adolescente que colecionava tragédias. Aos 6 anos teve
o pai assassinado. A irmã mais velha é usuária de drogas e perambula
pelas ruas de João Pessoa. A mãe, Adriana, 37 anos, tem nove filhos e
tenta sustentar a casa com o salário de R$ 724,00.
Camile não tinha
computador e reclamava por não ter dinheiro para comprar as coisas que
gostava, como iogurte e sorvete. Passava horas mexendo no celular,
deitada na única cama existente na casa. Completaria 14 anos nos
próximos dias, mas não esperava festa.
Na vizinhança, o clima era
de tristeza pela morte precoce de Camile. A dona de casa Ednalva dos
Santos disse que “viu a menina crescer”. Desconsolada, ela pediu justiça
pelo assassinato da garota. “É muita maldade no coração para fazer uma
coisa dessa com uma criança inocente. Camile não fazia mal a ninguém”,
pontuou.
No sofá da casa da família a reportagem encontrou
Adriano, um dos irmãos da adolescente morta, que chorava desconsolado,
olhando para o chão, como se buscasse uma explicação para o fato.
“Parece um pesadelo, ela não merecia isso”, declarou. A mãe Adriana
disse que o desejo dela sempre foi sair da comunidade, a qual considera
violenta. Sem alternativa, vai permanecer morando no mesmo local onde
perdeu a filha e o marido.
Escola de luto
Há cerca de 20 dias Camile não frequentava as aulas na Escola Monsenhor João Coutinho, no Róger, onde fazia o 5° ano do ensino fundamental. O fato, no entanto, não foi comunicado ao Conselho Tutelar Região Norte, segundo informou o conselheiro Elielton Lima. “A escola nunca nos comunicou essa ausência. Se tivesse informado, claro que teríamos feito alguma intervenção para saber o que estava acontecendo”, afirmou Elielton.
Segundo ele, há boatos que Camile andava com “pessoas
erradas, usuárias de drogas”. Já a mãe da vítima disse que a adolescente
ia às aulas “quase todos os dias”.
Conforme o art. 56 do Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA), os dirigentes de estabelecimentos de
ensino fundamental devem comunicar ao Conselho Tutelar os casos
reiterados de faltas injustificadas e de evasão escolar, quando
esgotados os recursos escolares. A direção da escola admitiu ter notado a
ausência da menina e não ter procurado o Conselho com a justificativa
de que “20 dias é muito pouco tempo para se preocupar com as faltas de
um aluno”. A gestora escolar Conceição Lacerda disse que a adolescente
era uma aluna aplicada e tinha bom comportamento. Chocados com a
violência que abalou alunos e professores, a direção suspendeu as aulas.
UM FATO, MUITAS VERSÕES
Vizinhos e familiares
Camile foi encontrada apenas de calcinha. Surgiram boatos que ela havia sido abusada sexualmente.
A adolescente costumava ficar até de madrugada na rua. Segundo a mãe, ela sempre estava em casa antes das 21h.
A mãe afirma que Camile não conhecia os meninos que confessaram estar com ela no momento do crime.
Um dos meninos apreendidos disse em depoimento que a arma pertencia a ele.
Polícia e Conselho Tutelar
A vítima estava de calcinha e short, mas sem parte da blusa, que teria se rasgado no trajeto. O laudo do IML vai confirmar se houve ou não abuso.
Camile não usava drogas, mas andava com más companhias.
Segundo a polícia, vítima e acusados estavam em harmonia, quando o tiro ocorreu.
A polícia investiga a informação recebida de que a arma era de outra pessoa, que seria maior de idade.
Por Notícia PB