A janela do casebre onde mora a dona de casa Maria da Penha Francisca da Silva, 56, a imagem é desoladora. O cenário visto ao abrir a janela revela uma cidade miserável, onde as pessoas que ali moram têm pouca ou quase nenhuma perspectiva de dias melhores. Uma imagem que comprova os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): 613 mil paraibanos ainda vivem abaixo da linha da pobreza. Uma boa parte desses miseráveis estão em João Pessoa.
Desconsolada e doente, Maria da Penha divide a pequena casa de dois cômodos com mais oito pessoas, sendo quatro crianças. A pobreza dentro de casa é extrema, mas pela janela parece ser ainda pior. A dona de casa desconhece os motivos que a cidade de João Pessoa tem para comemorar, pois só consegue enxergar miséria à sua volta. Ela tem o desafio diário de sobreviver com o auxílio que recebe do Bolsa Família, no valor de R$102.
Debruçada na janela de casa, Maria da Penha lamenta a condição social que vive e diz que não espera muito da vida. “Aqui falta tudo. É lama, é pobreza, é tudo que não presta. Somos esquecidos, nem atendimento médico nós temos”, declara a dona de casa, que mora no local há mais de 20 anos.
Certamente a visão que Maria da Penha queria ter da janela de casa era outra, mas ela já perdeu a esperança de um dia comprar uma casa em um lugar mais digno. “Sei que vou morrer aqui”, frisa.
A imagem vista pela janela do casebre na comunidade do S se repete em demais localidades de João Pessoa, onde a impressão é que as pessoas foram esquecidas pelas autoridades. A cidade cresceu e progrediu em muitos aspectos, mas ainda falta água, energia, alimentação, acesso à saúde e condições mínimas de sobrevivência com dignidade para muitos pessoenses. Basta abrir a janela para ver escancarada a imagem da miséria.
É isso que Bernadete Maria da Conceição, 40, observa todos os dias na comunidade do Timbó, bairro dos Bancários. Toda vez que olha pela janela, ela sente a angústia de ver um esgoto correndo a céu aberto, bem na frente de sua casa. “É uma situação complicada. O odor é muito forte, as fezes correm pela água e para fazer as refeições é preciso ter muito estômago”, declara. Quando chove, então, o problema se agrava ainda mais.
Sem saber se um dia a situação vai mudar, Bernadete desistiu de proibir as crianças de brincar na rua, mesmo sabendo que elas estão expostas a doenças.
O que era aceitável no início do século passado ainda pode ser encontrado hoje em João Pessoa, onde há 575 domicílios sem banheiro ou sanitário, conforme dados do IBGE referentes ao ano de 2010. A cidade que comemora o sucesso na construção civil é a mesma que amarga a realidade de ainda possuir domicílios particulares sem energia elétrica: eram 313 em 2010, segundo o IBGE. A capital paraibana possui 59 aglomerados subnormais (favelas), onde moram mais de 90 mil pessoas.
Por Jean Ganso, com Jornal da Paraiba